29 de fevereiro de 2012

Antithesis Phrenesis XVII-1

O tom
    da cor e
    da intensidade
de cada olhar
fere lá no horizonte
    do coração
riscos cheios de sangue
que se confundem
    com o mar
    de lágrimas
    que aguarda para inundar
o mundo fora
dos meus olhos
    num futuro vasto
    em que não se sabe
    a que momento
teu cego olhar
irá me deixar.

25 de fevereiro de 2012

Antithesis Phrenesis XVI

O tempo, depois de nascer, que não se deixa aparecer,

Apenas passa, passa muito rápido.

Como as lágrimas de um bebê, que evaporam

Assim que tocam as primeiras páginas da memória.

18 de fevereiro de 2012

Nostalgia

Os galhos balançam na melodia do vento que esfria a noite e encanta a alvorada. O céu está roxo e vazio. As ondas vêm à praia e voltam ao mar sem propósito. O tempo parou, e para sempre marcará no relógio cinco da manhã. Deixaram espinhos na maré e não guardaram as tuas cinzas. Sinto o teu cheiro, ouço o vento assobiar, olho em volta  e não há ninguém aqui. Deixaram espinhos na maré e não guardaram as tuas cinzas...

17 de fevereiro de 2012

Arquivos sem data

O amanhecer do sul, de um turvo azul-clarinho, traz o frio do oeste; esconde o sol e congela a praia. Traz a paz no ar, e através de sussurros gélidos, inspira a amar. Reconstrói o olhar, pensativo, voltado para o horizonte, onde piscam moribundas, as luzes das plataformas, as luzes do vasto mar. Passaram-se anos desde que estivera comigo, aqui, neste mesmo lugar. Passaram-se anos desde aquele apaixonado beijo. Continuo a recordar: dos teus vivos olhos de ternos cílios; de como aliviava minha solidão e afastava o frio. Lembro os sons, as frases; a serenidade da fala... Lembro estes arquivos sem data.

15 de fevereiro de 2012

Adiantado

O relógio,
Dois minutos adiantado,
Dois minutos mais distante de tudo.

11 de fevereiro de 2012

Pesca

O mar a sustentar os barcos
O vento a desenhar suas velas
A tarde a bocejar
Até as nuvens descansarem
Feche os olhos
Os peixes entrarão em suas celas
Repouse enquanto há tempo
Pois a tarde é calma, e bela.
Feche os olhos, e os peixes
As iscas morderão
Em suas celas entrarão
E tudo ocorrerá bem.
Feche os olhos
Enquanto há tempo
Pois a tarde é bela
E descansa, enquanto há tempo.
O mar a balançar os barcos
O vento a soprar suas velas
A tarde a bocejar
Até as nuvens descansarem
Feche os olhos
E tudo ocorrerá bem...

9 de fevereiro de 2012

Última serenata

Recolheram-se os violinos
Em uma cena de guerra
De escassas palavras.

Os pássaros não mais parecem cantar "eu te amo"
Mas sim "continência e retirada".

Recolheram-se os violinos
E a voz agora só serve para ficar calada
Ao triunfante fim que encerram com beijos
E algumas facadas.

4 de fevereiro de 2012

Podes sempre voltar atrás

Podes sempre voltar atrás enquanto as pegadas e os nomes ainda estiverem guardados na areia. Podes sempre voltar atrás. Mas pensa bem se é isto o que queres, a maré leva tudo o que não segue em frente.