Confusas placas
Uma vontade gritante de viver o inspirara ontem à noite. Tentara toda a semana ser alguém melhor para si, em vão. Tentara perder os sentidos e configurar-se para receber as bênçãos do futuro, também em vão. Via algo piscar em vermelho na escuridão, era um ponto só, de cor vermelho-alerta. Ali então guardara todo o seu tempo. Ali dividira a vida entre a saúde e a doença, poesia e desgraça. Mas não separara a vida da morte, para ele as duas eram como uma coisa só. Certas vezes, não sabia se respirava ou ofegava, não sabia se se mexia ou relutava, não distinguia o viver. Para ele, vida e morte era uma coisa só. Estava de pé num estado de dormência, não tinha dúvidas, pois sabia o lugar onde queria chegar. Bastava encontrar o caminho; bastava entender a língua das escrituras nas placas das esquinas — a direção das setas. Não tinha dúvidas, tinha apenas um desconforto — um desconforto ao caminhar e ao dormir. Uma decadência em realidade e em sonho. Uma carência de vida, não de ruas vastas e alagadas. Uma carência de vida, não de perguntas.
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