18 de março de 2011

Todos os dias o mesmo sonho




Todos os dias o mesmo sonho


Acorda e levanta,
Desliga o despertador,
Põe o terno, a gravata, e se adianta.
Caminha pelo corredor.

Desce a escada,
Toma teu café,
Dá um beijo na mulher.
Sai pela sala; avista a estrada.

Está frio, e no chão há neve.
Tudo está vazio, e tão leve...
Tudo então se esquece,
Mas aqui, nunca envelhece...

Pega o carro,
Corre ao trabalho;
Pega o atalho,
Estaciona em qualquer lugar, pois tudo está vago.

Vai ao teu cubículo,
Ajeita a papelada.
Incessantemente, trabalha
Para mais um dia em que tudo corre ao nada.

Acorda, e levanta.
Desliga o despertador.
Põe o terno, a gravata, e se adianta,
Vaga pelo corredor.

Desce a escada,
Anestesia-se, toma teu café.
Beija a mulher e,
Sai pela porta; observa a estrada.

Mais um dia, que corre em vão,
Estranhamente do teu jeito.
O sangue que agora escorre da tua mão, é da solidão,
Da própria alma rente ao peito.

Pega o carro
E corre, hesitante em fugir...
Mas segue o atalho, e vai para o trabalho.
Estaciona, e por um instante, observa:
As mesmas coisas em seu mesmo lugar.

Árvores, nunca tocadas pelos pássaros,
Ainda carregam em suas folhas neve.
Árvores, nunca percebidas pelo sol,
Ainda são castigadas, como vaso de flor, vazio e leve.

Vai ao teu cubículo,
Observa a papelada.
(Vê: a tua existência atropelada.)
E lá se vai, mais um conto de fada...

Acorda e levanta,
Desliga o despertador.
Põe qualquer roupa e se manda,
Foge pelo corredor.

Desce a escada,
Esquece o café,
Não beija a mulher.
Segue em direção à sala,
Abre a porta e sai
Em direção à estrada.

Pega o carro,
Desvia o atalho,
Foge do trabalho,
Estaciona em qualquer lugar, alto e vago.

Procura um prédio,
Um refúgio para quando em tédio.
Um remédio, um remédio....
O tropeço num anestésico.

E assim cai, num voo breve,
Em instantes. Leve como neve...

Vaso sem flor
Corpo sem calor
Mundo incolor
Uma vida sem amor.

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Acorda... Levanta...
Não toca o despertador.
Assustado, põe qualquer roupa e, desesperado corre.
Atravessa o corredor.

Desce a escada,
E não há café,
Não há mulher.
Sai pela sala, encontra a estrada.

Observa aos lados:
Não há carro,
Não há atalho,
Não há trabalho algum.

Então corre, corre atrás de tua sombra, a que deixaste no espaço
Sozinha e gélida.
Deixaste-a no tempo, a um abraço.
Sozinha, num mundo vago.

Corre, atordoado,
Até o pico daquele prédio.
(Sente-se pesado, sente-se velho)
E lá está, em tua forma o tédio.
Vê-se, o próprio, dar as costas (preferir um corte)
E seguir para o caminho
Onde abraçaria a morte.

A última batida,
Não revela, não espera,
Não deixa sequela.
Não trás, e não leva.
Simplesmente enterra
Para sempre, sobre suas trevas...

"O lugar agora chora...
O mundo mudou.
Quando o sol aparece
E a neve derrete,
O mundo chora..."



Baseado em "Every Day The Same Dream" de Molleindustria.

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