Tumultuaste as avenidas de tua alma como noite de juízo final; caos e desordem determinam o começo à última guerra. As ruas agora parecem lotadas, não com pessoas revoltadas, mas com tuas próprias palavras, aglomeradas e inertes. Palavras que prendem e sufocam no silencioso (e doloroso) ato de não falar; que congelam as lágrimas na presença dos outros, e que entre si brigam dentro de ti. Palavras que gritam, gritam alto até que alguém as escute e possam fugir. Mas o som que vem de dentro do corpo não é mais que um silêncio ricocheteando nas paredes do sentimento, ferindo até encontrar o outro lado.
Por que insistes então em carregá-las até que não haja mais sangue a escorrer? Por que insistes em ser incapaz e fraco, se isolar? Por que cegar os olhos é a solução, quando realmente existe quem morreria, até duas vezes, por ti? Enquanto o tempo corrói, desgasta-se a memória, e a pele se corta, reproduzindo friamente as imagens que te dizem as tumultuosas palavras. — E a alma a observar, como o corpo é, quando pensa sozinho.
Falar, não falou, mas se deixou sussurrar pelo eco da bala. E consigo levou, no gatilho da arma, não esperada liberdade, mas o peso das mesmas palavras convertido em correntes de ferro. Faleceste pelo próprio silêncio, de não falar, cuja traição feriu pelo gatilho da arma; pelo sussurro inerte das palavras.
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