"Anjos sem asas; andarilhos sem pés; mentiras sem pecado; a fé e o acaso..." — Para onde ecoaram todos aqueles berros? Onde agora estão os seus reis? O Colecionador procura ar e luz neste subterrâneo que o sufoca; procura a voz e argumentos para não acreditar que todo sofrimento e dor ocorrem em vão. Tenta a cada dia encontrar a coerência como se aplicasse conhecimentos matemáticos às coincidências da vida, a fim de perceber qualquer progressão aritmética, ou geométrica. Tenta encontrar o caminho de volta para casa, porém, não se convence de que a realidade nunca o permitirá descobri-lo antes da morte. Tentou até ser normal como aqueles que já abandonaram a verdade e perderam as expectativas, mas não se contenta em ser mera partícula que permuta no espaço. Ele grita os nomes de suas indignações, contudo não sabe para onde ecoam suas palavras, destarte, num breve desespero, diz "Estamos enterrados... Enterrados num submundo onde o objetivo é colher pedras até percebermos que somos apenas colecionadores do que nada vale. Colecionamos sonhos, como essas pedras, a espera do dia em que construiremos um barco para desvendar o que há além do horizonte." O Colecionador procura respostas, revira perguntas, mas sempre encontra a mesma solução, e conclui: "Eu coleciono sonhos porque não há outro meio de sobreviver — não há, além de almejar e acumular coisas."
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