30 de dezembro de 2013

Antithesis Phrenesis XXVI

Palavras são importantes
Para-conectar-memórias        perdidas
Estrofes       ...      distantes
De poesias antigas.

Antithesis Phrenesis XXV

Um tempo preso no momento
De uma história presa na memória
De uma noite a pesar saudade
E sentimentos de solidão.

Antithesis Phrenesis XXIV

Ineficazes brilhos, desenhos feitos
De de estrela
Que tingem a minha vontade
De te encontrar onde te perdi.

Antithesis Phrenesis XXIII

Luz, enigma, suicídio quântico

Pensamentos fortes, rápidos, de nenhum âmbito

Pensar para pesar, já que criar limita o universo

Pensar para pesar, já que morri nesse verso.

Antithesis Phrenesis XXII

O movimento faz a música
A música faz a forma do movimento
Um surdo zummbido que fecha a porta do sofrimento.

Madeira vermelha

Vê se busca na adega
Aquela safra de 72
Pois quem garante que o senhor
Não vá morrer depois?

Poesia de porão

Poesia de vanguarda
Daquelas guardadas
Recitada por ratos
Em revolução.

Antithesis Phrenesis XXI

Pontes sombrias

Que ligam zumbis

Às chaves da inexistência eterna.

24 de setembro de 2013

Velho estilete

Não me corta
Mas de tantas fricções
Me mantém áspero
E sem tanta rigidez.

Não me corta
Mas de tantas aflições
Acaba por me despedaçar
Sem piedade; e de vez.

17 de setembro de 2013

Tato

Há uma carícia no paladar das flores
Quando há uma marca de desejo
                                          no som das cores
Nadar sem         desprezo
É um desenrolar de palavras sábias sem desespero
                                                                
Não posso te ver de novo
       Antes que seja por livre anseio.

6 de setembro de 2013

"...O que eu queria mesmo era me afogar em teu cheiro quando meus pensamentos me privarem do oxigênio. Me embriagar na cor dos teus olhos e esboçar em teus lábios uma pintura infinita de verbos entrelaçados."

2 de setembro de 2013

Acenda-se

Ele não queria morrer
Mas sua mente não o deixava viver
Quanto vale um pouco de paz
Para quem não sabe esquecer?

O mundo é agora
Assim como o tempo que não demora
Quando se está no presente.

A morte está logo ali
Mas não se deixe falecer:
Um sorriso sincero vale por dez mil anos
De vida.

17 de julho de 2013

Aquele sonho

"Refugiado. Finalmente em paz e longe daquele cenário apocalíptico. Há ruínas lá fora. Aqui, neste abandonado apartamento, há sentimentos. Aqui, entre paredes cinzas e num confortável sofá bordô de couro, penso nas minhas lembranças com o coração acelerado e um pouco chateado pelos que estão longe e não mais entre nós, ou melhor, entre eu e meu recinto. Sou o único aqui. Me sinto verdadeiramente sozinho, mas feliz de alguma forma. "Feliz" é uma palavra muito estranha para se usar agora, neste fim de mundo. Mas a verdade é essa. — E além de feliz, me sinto acompanhado. — Seriam espíritos do bem me confortando com sua admirável presença? Talvez sejam espíritos daqueles que amo. Já deliro tanto sozinho que posso ver no reflexo do espelho de pé, levemente inclinado, a forma física de um amigo sentado no outro sofá. Ele está folgado, está relaxado e tranquilo, com a cabeça levemente inclinada e um sorriso bobo no rosto. Posso estar ficando louco, mas preciso lhe dizer "como você está bonito, amigo!". Elegante e confortável presença seria esta! Ou é? Não sei. Acho que ouvi algo lá na cozinha: talheres contra um prato de porcelana. Pratos de porcelana antigos como os da minha mãe. Este apartamento ainda está em boas condições para o estrago causado pela guerra. Ele é o único que restou de pé em meio aos destroços da cidade. Tão intrigante quanto esses sons que escuto: sons de passos, de vozes distantes e embaralhadas. Parece até o ambiente de um restaurante. Eu vejo uma nova forma. Um novo delírio! Parece que uma amiga, minha querida amiga, está almoçando à mesa, às sombras, além da luz do sol ardente que entra pelo pequeno vitro da cozinha. Apenas me aproximarei, e não direi nada. Isto parece tão real...

— Você não sabe o estrago da grande chuva, semana passada! Chegou a algar minha casa! Ela era forte, mas sem ventanias, e...

Ela fala; eu a ouço — isso é tão real quanto um sonho..."

Pedro Amorim sobre "aquele sonho" - 20/03/2013

18 de maio de 2013

Simples

Silêncio o dia inteiro
O Caos no exterior
A Paz no interior.

6 de maio de 2013

Acordar cedo

E é só de noite que eu entendo
O tamanho do tempo que perco
Desde quando o sol aparece cedo
E eu não estou lá para recebê-lo.

28 de abril de 2013

Vazio em volta

Um vazio, uma casa
Um assobio, uma taça
Um vinho, minha safra
Onde não há nenhum gosto.
Um espinho, uma valsa
Um pianinho, uma pauta
Um violino, e muitas notas
Onde não há nenhum valor
Escassez de vida e amor
Estupidez, carinho e calor
E as formas dos beijos
Sem cerimônias, nem sabor
Uma dívida entre os ossos
Uma dívida com o tempo
Uma ferida entre os dentes
Uma falha em meu invento
Uma fobia de libertar
Uma fobia de ser livre
Eu não sei se mais aguento
Ser o túmulo do despertar
Eu não sei se me contento
E me perco em aceitar
Ou se destruo meu entendimento
E continuo a caminhar
No vazio, numa casa
Com assobios e muitas taças
E vinho, uma safra
Onde não há nenhum gosto.

Delírio Mortal

O engano: o flerte mortal
A astucia viral das palavras
Que não se baseiam em moral
As sete línguas da sedução
Que cortam a linha do pensamento lógico
E destroem aos poucos, no decorrer do tempo
A felicidade que chega na hora da verdade.

8 de abril de 2013

Nihil

Opaco, vazio atroz
Que preenche minha fala
Minha sombra que é deixada
Como rastro de fumaça
Nas mãos do acaso inerte.

Um sentido e um flerte
Com a ilusão do encerramento do sofrimento repulsivo
Perdido em ciclos embriagados
Onde a felicidade se devora
Apenas com algumas perguntas sem respostas
Que julgam serem reais e absolutas
Quando na verdade a realidade
Nada mais é que uma criação nossa.

1 de abril de 2013

Eu a chamo de Carlste

— E com todo o seu encanto ela dançou, sozinha, com suas mãos frias atiradas ao ar, desamparada e sombria como uma tempestade que devasta em euforia, turbulenta como milhares de pratos se despedaçando ao chão. Dançarina de gestos depressivos, corrosivos, magníficos e destrutivos. Ora contida em movimentos amordaçados, ora expelida como traços rabiscados. Dona de uma frequência intuitiva, levemente subjetiva. Cheia de saltos, giros e quedas delicadas de inúmeras saídas. Assim, com todo o seu encanto ela dançou, entre uma lua e outra, entre um coração e outro, entre um sorriso e uma face de tristeza. Ela dançou, assim, e como uma vela se apagou.

Velho estado mental

Amarelo como uma antiga foto
Singelo como ferida esquecida
Cheio de significados conotativos
Perdidos em uma ideia sem sentido
Feito querido, feito esquecido
— Fala, palavra, o que não quer dizer
Estou cada vez mais subjetivo
Amargo e ferido
Sem poros nem migalhas paraninfas
Errei ao te criar
Errei ao te perder.

Minha febre

Ah, minha febre
Doce como essência de hortelã
Estranha como lentilha
Acompanhada do silencioso intervalo
Da música clássica
De um compositor francês
Ah, minha febre
Tirou-me uma festa da fantasia
Em que eu iria ver você
Vestida de heroína
E iria de motoqueiro
Só para te buscar
E levar para minha vida.

30 de março de 2013

Depressão de Outono

Sem forma, meus dias progridem

Regressam ao fim de minha lógica

Enquanto os segundos se tornam mais agressivos

E o ponteiro do relógio esmaga meu pescoço

Minha arte perdeu-se no esboço

Tentei resgatá-la

Mas estava frio demais para quem ainda entende o que é calor.

Os laços dilaceraram-se

E com fragmentos do que sobrou

Enrolaram meu pescoço

E puxaram até que a luz se tornasse escura o suficiente

Para dizer quem é que estava morto.

27 de fevereiro de 2013

O trágico fim da linha.

Como uma criança a percorrer o arco-íris para encontrar um pote de ouro em seu fim, percorri a estrada das expectativas em vida. Eu corria com a esperança e a fadiga de cada fim de tarde ao meu lado. Um tempo depois a fadiga das manhãs apareceu para me acompanhar. Esta já me atrapalhava bastante. Ela insistia que eu parasse de correr. Ela me entediava. Ela parecia tão desnecessária e tão cativante ao mesmo tempo, que sucumbi uma ou duas vezes à sua vontade. Porém essas tentativas de desistência se foram quando o incentivo chegou para correr junto a mim. Ele era ágil, veloz, e me empolgava. Ele usava as palavras certas que com certeza impulsionariam meus pés a cada passo. Ele me acompanhou por incontáveis dias. Eu acreditei nele assim como acreditava que eu estava vivo. Até que certo dia ele teve que partir para outra direção, e então eu passei meus dias seguindo sua filosofia como um bom discípulo. A caminhada era longa e arriscada. Era quase impossível prever quem ou o que iria aparecer para me acompanhar. A caminhada estava começando a ficar interessante e agradável quando certa tarde — que já não havia começado bem por um pressentimento suspeito — eu percebi que o fim da estrada permanecia mais longe que eu imaginava. Mas não desanimei. Comecei desde então a correr automaticamente. Sem sentir a direção do vento e sem interagir com os variáveis momentos que me abordavam na estrada. Até que eu tropecei. Cambaleei e feri meus joelhos. Quebrei, não entendo como, os cotovelos. Ralei os pulsos e acabei deixando cair a sanidade. Procurei-a, mas não a encontrei. Ao olhar para a estrada, após me recuperar, percebi que estava diferente. Tinha curvas novas; tinha gente mais estranha que o normal correndo por ali. Pessoas com objetivos estranhos, correndo com uma convicção doentia; esta que parecia a cada segundo desvanecer e tornar-se transparente bem ao lado deles. Até que se viam inteiramente sozinhos e começavam a correr com desespero e agonia para lugar nenhum. Alguns simplesmente abortavam a corrida e sentavam no asfalto. Entravam em transe e, numa forma de vai e vem com a coluna permaneciam constantemente por um longo tempo. Até quando eu não sei. Nunca parei para observar o que iria acontecer com eles, porém, nunca vi-los fazerem outra coisa após isso. Eu tinha medo que meu trajeto terminasse assim: trágico. A partir daí a caminhada deixou de ser monótona. Eventos e imagens me circundavam desde então. Mas todos eles carregavam desgraça e tragédia. Eu estaria perdido? Estaria eu caminhando na estrada errada? Não encontrei resposta para essa pergunta. Achei que seria mais produtivo continuar a correr a ter que parar para rever o trajeto. Foi o maior erro que cometi em vida. Eu poderia ter achado uma saída dali: daquele espaço envolto por tragédias. Mas continuei a correr — em frente, sempre. Muito tempo se passou. Eu estava acostumado com as desgraças e a dor em meus braços e pés. Quanto mais longe eu ia, mais meu corpo doía. Contudo, eu parecia não ligar para isso. Eu queria apenas chegar... Sim, chegar. Seja lá onde fosse. No fim da estrada ou em algum lugar. Eu escolhi apenas o caminho, a conclusão eu decidiria no meio da estrada, no decorrer das milhas que se passavam. Eu acreditava no bom fim. No agradável e confortante fim. Eu acreditava que se não fizesse coisas ruins aos outros no decorrer da estrada, eu teria um bom final. Eu procurava talvez um pote de ouro no fim do arco-íris. Eu seguia as cores até que elas me cansassem e eu me perdesse na diferença entre elas — até que todas permanecessem iguais; então eu seguia uma estrada sólida e cinza; e logo eu não mais via os dias passarem. Eu apenas sentia meus pés doerem; o cansaço aumentar; eu percebia o cenário da frente ficar para trás. Eu caminhava tranquilamente até que então o asfalto acabou. Havia uma placa sinalizando o fim da linha. Ao lado dela, no chão, jazia o crânio de um animal grande. Além do asfalto estava a vastidão dum deserto que escurecia ao anoitecer, e logo o cenário estava se apagando. Eu já não via mais o sol; eu já não via as montanhas, e logo eu me via apenas na presença da placa, do cranio e do asfalto em seu fim. Não havia mais onde chegar. Não havia nada envolta. O fim da linha era amargo, seco; trágico... Seria isto o início duma canção para o adeus? Eu não sei. Mas assim eu decidi.

9 de fevereiro de 2013

Sede

Saudade: dá sede?
Minha boca permanece seca
E cortante como um estilete.

Venha até mim ó ausência petrificante
Morra em meus lábios  faça tua prece dissimulada
E seja minha amante, nem que seja dentro dum caixão.