31 de outubro de 2010

Anima Poetae

Anima Poetae

O que poderá eu escrever
Se todo o sentido escorrer, vermelho?

Dos olhos, lança-se a ultima lágrima.
Apagar, apenas apagar, com este único disparo.

Uma melodia interrompida
A vida, com o tempo, esquecida.
O que poderá eu escrever
Quando tu fores?

E se eu não morrer?
E se eu for imortal?
Quem irá me apagar?

A cada passo
Caminho cansado
E o quarto,
Continua em branco.
Por quê?

Meu grande irmão...
Ainda sim observarei por ti
A Terra dos que hão de acontecer
Não me esquecerei
Da chuva
Nem de nossa lua
Se eu sei bem o que é viver
Viverei então, por ninguém.

Então, o que poderei eu, sozinho, escrever?

Carregarei comigo o nosso símbolo de poeta
O guardarei e o protegerei
Mas é apenas um tesouro, sem vida.
 E a alma, sozinha.
Pois, enquanto os outros nos lerem,
Eu respirarei... Somente eu.

Meu grande irmão, o grande Poeta.
Que escrevia como o grande "fera"

E eu, sem ti.
O pequeno imortal

Solidão... Para quê?

Por que não me diz
Só mais uma vez
Como soava
O nosso acorde?
E os tambores?
Os trompetes e os violinos?

Só mais uma vez,
Quero unir-me ao teu corpo,
Um só poeta.
Quero criar
Contigo,
Só mais uma poesia.
Tornar uma vida, sem saída.

Minhalma gêmea
O que poderá eu escrever...
Se todo sentido escorrer, em vermelho?
De teus olhos, lança-se a ultima lágrima.

Amigo

Ainda soa aquela nota
Mantida como uma corda
Na qual segura um de cada lado

E o tempo calado
Sem nada a dizer

Profere-se, esquecimento.
Mas ainda escreve
O tempo.

30 de outubro de 2010

O pecado

E quando te arrependes, queres voltar ao controle, lançando fogo sobre os teus problemas, sobre os próprios erros. Mas, o que são eles? Quem os compõe?

Não tente separá-los
São parte de um todo
Queimá-los só lhe trará mais problemas

Eu hei
De arrancá-los, um a um.
Fazer extinguir, raiz por raiz.

Pois, não sacrificarei esta montanha, raiz de meu plantio, fonte da sobrevivência. Não antes, de muito pensar.

Se não o mesmo erro
O fogo me fará errar

- Por isso, não respires destas chamas
As cinzas deste lugar
Ou em teu estômago nascerá
A raiz do pecado
E este te fará
Congelado.

Sem obstáculos

Por noites vagando por aí
Pensei em sonhar
Fingir que não existem baobás
Para impedir-nos de caminhar
Por este lugar tão pequeno
Tão ingênuo

Hotel sociedade

Prisioneiros da própria vontade
Pensam só pela metade
Assim são, os Homens que criam a realidade

Novo capítulo

Para toda poesia
Uma página nova
À esta viagem, à paisagem

24 de outubro de 2010

Sensação

 sensação

a minha sensação não sou eu, não sou eu quem se sente metido em atalhos perdidos com palavras a saírem por todos os bolsos das calças, do casaco. a minha sensação não sou eu, algures foi construída a mentira daquilo que ofereço a quem não vê para além da imagem exterior. peço desculpa por vos ter convencido tão bem da ficção que construo, peço desculpa, até, por existir. depois sigo também pelos atalhos, leio-me como que se descobre, encontro sempre, aqui ou ali, qualquer coisa que não posso negar ter-me passado pela cabeça. mas, aí está, quando surge a sensação, mesmo que minha, já não sou eu.

      - de luís filipe cristóvão

18 de outubro de 2010

Rejeitar

Coisinhas brilhantes
Que se escondem no escuro
Assim como os diamantes
De um ar tão puro

As observo desta margem
Deitado neste gramado
Banhado por um rio amado
Que reflete a mesma imagem

Observa enamorado pela lua
Trocando olhares por esta rua
Tão vaga, tão bonita
Tímida, ninguém imita

Brilham eles lá
Os diamantes desse par
E eu apenas a sonhar
Com esses amantes do luar

É triste quando começa a clarear
Um véu se estende
Destinado a nos separar
Nada mais se entende

A lua se vai; os pequenos diamantes se vão
Chegou a hora
Triste vou embora
Então o rio corre em vão

Encostado numa cerejeira
Dedilho as cordas do violão
Observo de qualquer maneira
O rio bem longe deste chão

Nela pensa ele
Com ela espera ele
Assim ele a faz querer todas as noites reaparecer
O rio amado, refletindo mesma imagem ao amanhecer
Mesmo ausente lá, naquela margem

Por que motivo sentes a vida assim?
É assim que Ele a quer para mim
O que amamos muitas vezes se vai
Não quer dizer que acabou...
Esta flor que cai
Vê seu mundo que desmoronou

Em meio a este som suave
Semelhante ao vôo de uma ave
Olho para o céu
Para muito além deste véu

Agora sei que elas me observam de lá
Eu as espero voltar, sem rejeitar
Diamantes brilhantes, amantes eternos
São as estrelas, com as quais eu quero sonhar

14 de outubro de 2010

Futuro

E quem sabe se outras manhãs como esta se repetirão? E se por acaso o sol parar de brilhar? E se meus olhos amanhã forem incapazes de alcançar o mar? E se as ondas sonoras forem extintas amanhã? O que será do mundo se toda a cor desmanchar? Amanhã, amanhã... Embora muitos queiram viver o agora, o que será de nós amanhã? Do que seremos capazes? E se o futuro se resumir em marionetes dançantes? E se a ignorância triunfar? O que será ninguém sabe.  Será que se pesar as consequências alguém se arrependerá? Cada um por si ou um por todos? Um dedilhado estranho ecoa lá do fim...

Eu

Neve que cai como cristal
Brilha fora do normal
Ouço sinos
Mas não é natal

Isto é irreal
Sobre o branco
Manchado o vermelho
Um manto
Que cobre o espelho

Posso ver minhas mãos
Que se tornaram inertes com o tempo (preciso pensar, preciso fugir).
Mas para onde vou correr?
Se como o vento eu me persigo

Mesmo preparado para fugir
Não posso sentir
O caminho certo para seguir
Sou a máquina inerte
Impura e sem prece

Ouço os sinos
Mas não é natal
Movem-se os pinos
Sobre o tabuleiro final

Preciso pensar
- Não se abandona o próprio sem par
- Não se entrega ao ódio o seu singular
Estou a estancar
Este sangue que jorra de meu lar

Sobre o branco
Um encanto
Sobre o espelho
Marcado o vermelho

4 de outubro de 2010

Esquecer

De Pedro Amorim e Marcos Santos

A desabrochar está ela
Presenciando mais um amanhecer
Tão confusa espera
Sem poder crescer

Em meio aos girassóis,
Desconhece o mundo em que mora.
Parece diferente de nós,
Mas, como todos, também chora.

A todo crepúsculo
A vejo observar o sol
Transparente e puro
A observo deixar a vida só

Oh, Rosa, que fazes?
Por que tanto observas a vida?
Em tua mente o que trazes?
Rosa, vivida, esquecida.

O quarto,
O silêncio,
O infarto,
Além de antigas carícias.

Anoitece.
Sossega em tua paz.
O dia se desfaz.
A rosa se esquece.

Certo dia
Conversei com ela
Assim se descobrira
A rotina como era

Me respondia
Com ar de alegria,
Tímida sorria,
Porém, de nada se lembraria.

Por outro lado, se sentia feliz
Como sempre quis
A vida era assim
Por sua vez, um dia de cada vez.

Vive, vive
Em teu mundo que recomeça
A cada dia.

"De certo modo, confuso eu ficaria, a felicidade era sua amiga, como preço, de nada se lembraria. Por que eu me retiraria do próprio aposento para mostrá-la o peso de um dia atrás do outro? Assim se resumia toda a felicidade dela: Por sua vez, um dia de cada vez."