29 de outubro de 2011

E o deserto se silenciou [9]

O deserto se silenciou
E os ruídos se acalmaram
Os vazios se aglomeraram
E os vaga-lumes se separaram

Assim foram narrados meus dias desde então.
Sem vida, nem movimento.
Apenas aqui o vento,
A velha areia, e as montanhas carmesim.
E eu, a vagar sozinho,
Como a morte que procura a mim.

       Estar sozinho é como verdadeiramente estar a um passo do precipício, onde à frente está a morte, e em volta os espinhos. Não temos para onde correr até que os céus nos iluminem a alguém. E enquanto eles permanecem selados, a angústia nos aprisiona na indecisão entre esperar ou morrer. Porém, o único meio de escapar dessas opções seria pela fé.
       Então eu me pergunto, onde está a minha fé?
     Sei que ela não se foi, mas encontrá-la dentre os escombros de minha alma seria um grande desafio. Minha fé poderia estar num lugar bem longe daqui... De onde ecoam os lamentosos e incrédulos gritos de Psique; como quem pede por socorro, mas em silêncio, gritando para dentro de si a rendição, e desistindo da própria vida.
        Mas eu o ouvi.
      E a cada noite em que sonho observo-o de lá das nuvens: um gato solitário e pensante, sentado numa superfície rochosa, quase desaparecido nas profundezas dum abismo. Ele olhava triste para algo que lá embaixo, na escuridão, se formava. Talvez fosse um desejo, talvez uma miragem. Mas logo desviava o olhar e emitia um miado curto, e gélido, que ecoava para o infinito adentro das trevas; e tornava para dentro de uma fissura que se encontrava logo atrás de si, na parede daquela "garganta" do deserto. E lá ficava, talvez escondido, enquanto o sol lá em cima o condenava com os últimos raios do crepúsculo, emitindo ondas vermelhas de nostalgia.

"Lembranças que se foram, que formam e transformam, reminiscências em aurora.
Estrelas do agora, há muito envelhecidas na memória,
Desabando sobre si numa supernova."

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