19 de outubro de 2012

Banalizado

Dizem que espíritos habitam em coisas que as pessoas colocam seus sentimentos. Não é difícil perceber que artistas — pintores, músicos, poetas; entre outras funções — trabalham arduamente para transferir parte de sua alma que será eternizada numa folha de papel, canção ou tela. Eles sentem dor, essa repartição dói; cansa o corpo, porém nem sempre traz o alívio. Certas vezes fragmentar a alma é uma necessidade, tendo seus aspectos bons ou ruins. Alguns artistas, de fato, sofrem o fenômeno de verdadeiramente serem eternizados, seja por grandes e memoráveis obras, ou pela atenção e agrado do público. Outros, diferentes destes, porém tão trabalhadores quanto, são esquecidos e abortados; banalizados. Não é difícil notar esta dura e competitiva realidade, pois qualquer indivíduo que expressa seu sentimento — sua reivindicação ou gratidão — como um trabalho chamativo, significativo e simbólico, sabe as dificuldades que teve para efetuá-lo, e também sabe que poucos notarão seu suor, sua alma, ali exposta na arte. Por este ângulo, não podemos duvidar que essa atmosfera realmente exista. Mas a visão que quero lhe despertar não é esta, óbvia e relacionada a outrem, o que quero lhe mostrar é que todos nós somos artistas, ou melhor: todos nós somos trabalhadores. Não é preciso que alguém pinte uma tela ou escreva uma poesia para repartir e eternizar sua alma. Dia após dia, a vontade que excita e nos faz realizar as tarefas obrigatórias e ainda mais um pouco, é fruto duma manifestação não tão diferente da que vimos anteriormente. As pessoas ainda se mobilizam, mesmo que quase anonimamente, para ajudar, construir, conquistar, doar, proteger, enfim, mobilizam-se por alguma causa e não fazem isso porque são obrigados. Essas pessoas são artistas anônimos de uma obra chamada "mundo melhor", e não são reconhecidas, incentivadas, eternizadas, mesmo que por um ato significante na vida de outrem. Essas pessoas, muitas vezes, tendem a ser banalizadas, e por consequência, se tornarem escassas num lugar que necessita efetivamente delas.

— "Artistas banalizados, que fragmentaram sua alma em trabalhos para os quais não foi dada devida atenção. Artistas que perderam parte de sua alma."

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