17 de março de 2012

Funerário septeto à rosa que portava espinhos

O vento poderia mudar seu rumo,
Mas a direção do barco era a mesma,
Contrária ao que queria o mundo,
Que por partes quebrava meu sentimento.

Nem mesmo aguentara a vela, colada no mastro,
Manter-se "vela"
A força do destino a dissipou
Os remos quebraram, e o mar os levou...

Não entendo como tudo começou,
Mas entendo que no fim
Tudo o que queria era
Voltar para casa,
Onde estaria com ela, minha rosa,
Bela.

Convidara-me certa vez para ser feliz,
E aceitei, como se um desespero no estômago
Comandasse todo o resto de meu corpo.

Mas é certo que o começo
Foi todo um processo anterior
Escrito por deuses
O qual morreu no próprio berço.

Flor, da natureza, flor da terra,
A qual não posso mais regar
Sabes que sou um viajante,
E que mesmo distante irei te amar
Se eu pudesse, carregar-te-ia comigo,
Porém não há vaso que suporte tua nobreza.
Morrerias, flor, e me levarias contigo.

Pensei que assim, por um tempo, a manteria viva
Pois sabemos, todos nós, que a paixão se dilacera
Quando é esticada entre quilômetros.

A mantive viva, a minha flor
Pude amá-la, mesmo distante,
Esperando o dia em que retornaria para regá-la.

Passaram-se semanas, e meses,
E finalmente estava no caminho de volta para casa.
Braços ao remo, pés descalços.
Eu voltava, feliz, à minha amada,
Quando percebo, no mar, na estrada,
Veias em que não corre mais sangue
O sangue vivo de amor, escarlate, de cor
A rosa se encontrara ao chão
Suicidara-se.

Lágrimas surgiram de trás dos meus olhos
O fogo queimava minha alma, que gritava.
A rosa se foi, e deixou apenas seu corpo
Que passei a odiar ante meu orgulho,
Ao longo do tempo.

Morrera, como previsto, a paixão
E com garras puxando o manto do mar
Eu tentava alcançá-la, tanto seu corpo quanto sua alma.
Do corpo eu me deleitaria com imortal vingança
E pela alma eu choraria como uma criança, só para poder abraçá-la
Novamente.

Ceguei meus olhos na própria chama,
Queimei-me por inteiro num banho de fogo com o ódio
Dias e noites passaram
Até que dentre papéis e notas
Alcancei meu ópio.

Tinta jorrada, borrada pelas mãos,
Em papéis que descreviam a morte
 Podre e com cheiro de inferno — como só ela é.

Quando acordei, a paz dissera-me que todo o ódio
Era fabricado pela dor
Da perda de um amor.
Tanto odiei aquele corpo, de rosa, vazio,
Que não me deixei perceber
Como isto não fazia sentido.

A verdadeira rosa havia morrido,
E ao seu corpo devo agradecer,
Apesar de fazer-me sofrer,
Agradecer por toda essa dor
Que invocou os sacerdotes da minha escrita.

Rosa, bela rosa,
Serás sempre aquela com quem a eternidade sonhei
Sempre ao relembrar-te
Causar-me-á tonturas, à beira da loucura.
Sinto que em algum lugar do miradouro,
Feito de nuvens do céu,
Observas a mim como teu fiel e para sempre amado.

Deixo-lhe cartas
Um canto de sete vozes ao som do violino, e
Coloridas flores.

O sol que ilumina e aquece,
Nos trás os primeiros raios da alvorada
O som da luz é leve,
Silenciosa onda de amor.
Quero que descanse em paz
      - Minha flor.

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