A fala era bem mais poética nos antigos tempos. Olhávamos um para o outro como quem vê a felicidade passar. Como quem a vê passar diante de seus olhos, e acenar, com um enigmático sorriso no rosto. A luz que atravessava a janela, não era apenas luz, era a porta da inspiração de estava aberta, com alguém a segurando pela maçaneta e chamando com gestos, para que entre, e se sente. A sala da inspiração era quieta, o som por inteiro era do silêncio. As paredes estavam cobertas de um papel verde oliva clara, enfeitado com desenhos, de linhas verticais e pequenos losangos separados ao longo delas, de um tom mais escuro. O carpete do chão era da mesma cor da parede; o sofá, bege, daqueles elegantes e de época. As mesas, e as estantes, eram de madeira pesada. Os livros eram de contos e ideias. A inspiração era a própria sala (luz da janela).
A fala era bem mais poética nos antigos tempos. Hoje, a distância não nos permite mais os olhares cruzados, não nos permite o tempo e a fala, poética, de amigo. Hoje, essas histórias soam bem mais esquisitas, e quando me ponho a olhar para a janela (e para a luz que a atravessa), vejo ninguém na porta, e sinto a estranha sensação de ter esquecido algo lá dentro, algo não tão valioso... Talvez algum verso daqueles tempos, talvez, a chave essencial para entrar naquele lugar. Algo que deixei lá dentro, da luz; do cômodo da mente; e que sozinho não poderia encontrar, nem sequer passar por aquela porta, que jaz destrancada.
A fala era bem mais...
...Algo que não posso mais recordar...
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