7 de setembro de 2012

Abismo

Entre as obscuras retas que atravessavam o quadro — duas, somente, como fios de sangue em cada extremo da tela — estava a melancólica e densa neblina que infestava aquele vazio por inteiro, com fragmentos que ora se perdiam; ora se revoltavam dentre as massas mais condensadas do centro, recheadas de medo e desespero. Uma forma de terror singular, monótono, que nem sequer as rachaduras da terra seca têm. Escuridão abissal que nem a mais destemida ave pairaria sobre. Um lugar onde nenhum homem em perfeita loucura ousaria aventurar-se ou explorar. Entre essas obscuras retas: um negrume mais escuro que vultos à meia-noite. Abismo infestado de silêncios que ecoam por toda parte. Um abismo na tela, pintado e assinado por Morte.

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