16 de junho de 2012

Antithesis Phrenesis XIX

A bombear infartos
Nas visões erradas
A acústica do diabo:
O teu som por inteiro
Tragado pela dúvida
De um coração calado.

Silêncio

O silêncio não existe, não em vida. Dizem que quando todo som se cessa, o silêncio aparece. Eu discordo: assim como a ausência de uma presença provoca a saudade; a ausência do som provoca ruídos. A própria consciência os produz, pois nunca conheceu algo diferente. Nunca esteve em paz. Nunca ouviu, nem sentiu a morte. Somente descobriríamos o que é o silêncio se os ruídos da vida, ou da própria sina, tragassem nossa audição, porque enquanto ainda reservados, e vivos, conhecemos apenas o que conhecemos.

A bússola de Ifrit

O céu e o infinito estão além de vós. O paraíso, fora de vossa compreensão. Entendeis apenas o que é o inferno, pois coexiste fervilhante em vosso interior. O inferno está dentro de vós; ao redor, as ruínas, e mais distante, o paraíso. Cabe a ti saber como lidar com o teu inferno. — O norte do meu espírito aponta para longe dele.

Partituras do dia a dia

Era incompreendido quase todas as vezes que erguia a voz para falar de suas ideias. Se sentia mal. Não sabia se eram os outros que não entendiam de uma teoria banal, ou se houvera enlouquecido.

Sussurros e ruídos noturnos

Chove enquanto há noite. Os bares estão abertos e as caveiras bebem os homens. O dinheiro destrói as mulheres. O sono não atinge as crianças. A ilusão dá razão aos jovens. A ambição saqueia os cofres. A morte vive a vida. O cigarro traga o velho. O destino joga cartas e aposta a sorte de seus servos. Chove enquanto há noite, enquanto a desordem ama o caos e de mãos dadas vagueiam sobre a cabeça dos tolos — caminham na calçada do juízo sem que trovoada alguma se suceda. Chove, silenciosamente, enquanto há noite, como se todos estivessem dormindo e o dia nunca chegasse.

- O Colecionador de sonhos

Subterrâneo

"Anjos sem asas; andarilhos sem pés; mentiras sem pecado; a fé e o acaso..." — Para onde ecoaram todos aqueles berros? Onde agora estão os seus reis? O Colecionador procura ar e luz neste subterrâneo que o sufoca; procura a voz e argumentos para não acreditar que todo sofrimento e dor ocorrem em vão. Tenta a cada dia encontrar a coerência como se aplicasse conhecimentos matemáticos às coincidências da vida, a fim de perceber qualquer progressão aritmética, ou geométrica. Tenta encontrar o caminho de volta para casa, porém, não se convence de que a realidade nunca o permitirá descobri-lo antes da morte. Tentou até ser normal como aqueles que já abandonaram a verdade e perderam as expectativas, mas não se contenta em ser mera partícula que permuta no espaço. Ele grita os nomes de suas indignações, contudo não sabe para onde ecoam suas palavras, destarte, num breve desespero, diz "Estamos enterrados... Enterrados num submundo onde o objetivo é colher pedras até percebermos que somos apenas colecionadores do que nada vale. Colecionamos sonhos, como essas pedras, a espera do dia em que construiremos um barco para desvendar o que há além do horizonte." O Colecionador procura respostas, revira perguntas, mas sempre encontra a mesma solução, e conclui: "Eu coleciono sonhos porque não há outro meio de sobreviver — não há, além de almejar e acumular coisas."