25 de março de 2012

Astrolabium

Suspensas as evidências
Metricamente taxadas na parede do horizonte
Uma constante nebulosa azul
Que vai de norte a sul
E nos diz, ao estalar dos números
E ao chiar das ondas,
Para onde ficam os montes.

É para onde vou seguir
Na espada ferir minha marca
E dizer a todos
Que tenho um belo lugar a ir.

O navegante e o astrolábio
O poeta do mar
A caminhar sobre as ondas
Como se fossem uma partitura de ensaio.

Espiritual Sakura

No pacífico, rumo ao norte
Doces pétalas de cereja
A bombordo
Ardem intensamente em cor
Abaixo das risonhas luzes
Do estrelado céu azul.

Telhas, tristes telhas

Chove naquela pequena cidade, marcada pelas cinzentas tardes, de casas pequenas. Aconchegantes casas de madeira em que sempre há uma chama, sutil e delicada, alimentada por óleo ou querosene, que arde, ilumina e aquece. Enquanto, do lado de fora, o vento sopra, assobia e resplandece, passando pelas brechas das portas, e das janelas, quase pronunciando palavras num murmúrio breve. Chove na pequena cidade, de pequenas casas, em que choram as telhas. Derramam de suas beiradas cristalinas gotas de tristeza, e de saudade. Choram no silêncio daquela tarde cinzenta, entre as árvores e os jardins de flores, no silêncio de palavras, e no ruído da chuva ao tocar as folhas. Chove naquela pequena cidade, em que o vento canta com mil vozes ao sentir na forma, a melodia das coisas.

17 de março de 2012

Funerário septeto à rosa que portava espinhos

O vento poderia mudar seu rumo,
Mas a direção do barco era a mesma,
Contrária ao que queria o mundo,
Que por partes quebrava meu sentimento.

Nem mesmo aguentara a vela, colada no mastro,
Manter-se "vela"
A força do destino a dissipou
Os remos quebraram, e o mar os levou...

Não entendo como tudo começou,
Mas entendo que no fim
Tudo o que queria era
Voltar para casa,
Onde estaria com ela, minha rosa,
Bela.

Convidara-me certa vez para ser feliz,
E aceitei, como se um desespero no estômago
Comandasse todo o resto de meu corpo.

Mas é certo que o começo
Foi todo um processo anterior
Escrito por deuses
O qual morreu no próprio berço.

Flor, da natureza, flor da terra,
A qual não posso mais regar
Sabes que sou um viajante,
E que mesmo distante irei te amar
Se eu pudesse, carregar-te-ia comigo,
Porém não há vaso que suporte tua nobreza.
Morrerias, flor, e me levarias contigo.

Pensei que assim, por um tempo, a manteria viva
Pois sabemos, todos nós, que a paixão se dilacera
Quando é esticada entre quilômetros.

A mantive viva, a minha flor
Pude amá-la, mesmo distante,
Esperando o dia em que retornaria para regá-la.

Passaram-se semanas, e meses,
E finalmente estava no caminho de volta para casa.
Braços ao remo, pés descalços.
Eu voltava, feliz, à minha amada,
Quando percebo, no mar, na estrada,
Veias em que não corre mais sangue
O sangue vivo de amor, escarlate, de cor
A rosa se encontrara ao chão
Suicidara-se.

Lágrimas surgiram de trás dos meus olhos
O fogo queimava minha alma, que gritava.
A rosa se foi, e deixou apenas seu corpo
Que passei a odiar ante meu orgulho,
Ao longo do tempo.

Morrera, como previsto, a paixão
E com garras puxando o manto do mar
Eu tentava alcançá-la, tanto seu corpo quanto sua alma.
Do corpo eu me deleitaria com imortal vingança
E pela alma eu choraria como uma criança, só para poder abraçá-la
Novamente.

Ceguei meus olhos na própria chama,
Queimei-me por inteiro num banho de fogo com o ódio
Dias e noites passaram
Até que dentre papéis e notas
Alcancei meu ópio.

Tinta jorrada, borrada pelas mãos,
Em papéis que descreviam a morte
 Podre e com cheiro de inferno — como só ela é.

Quando acordei, a paz dissera-me que todo o ódio
Era fabricado pela dor
Da perda de um amor.
Tanto odiei aquele corpo, de rosa, vazio,
Que não me deixei perceber
Como isto não fazia sentido.

A verdadeira rosa havia morrido,
E ao seu corpo devo agradecer,
Apesar de fazer-me sofrer,
Agradecer por toda essa dor
Que invocou os sacerdotes da minha escrita.

Rosa, bela rosa,
Serás sempre aquela com quem a eternidade sonhei
Sempre ao relembrar-te
Causar-me-á tonturas, à beira da loucura.
Sinto que em algum lugar do miradouro,
Feito de nuvens do céu,
Observas a mim como teu fiel e para sempre amado.

Deixo-lhe cartas
Um canto de sete vozes ao som do violino, e
Coloridas flores.

O sol que ilumina e aquece,
Nos trás os primeiros raios da alvorada
O som da luz é leve,
Silenciosa onda de amor.
Quero que descanse em paz
      - Minha flor.

Izabella

Izabella: um nome de guerra
Ou a real essência
Dos versos de paz
Que descrevem a vida?

Eis a questão que não se encerra;
Só nos faz pensar, e pensar
Sobre como cada suspiro de vontade
Dura eternamente sobre sua personalidade.

A voz, um refúgio
   um comando,
Um amanso entre toda energia
Que se choca e funde ao tentar abalar
Sua impenetrável alma
Que vence toda dúvida
Com determinação e calma.

Izabella: um nome de guerra
Ou o templo onde se forja a paciência?
Isso nunca entenderemos
Porém o belo que há
É sinônimo de amar,
Amar a vida
Como a braveza do mar
E a leveza das ondas
Que logo se desfazem na ponta da maré.
Mas sabe-se que lá do fim,
Perto do horizonte,
Vem muito mais.

Sabe-se também que o nome dela
Revoluciona e traz paz
É o que o som da vida traz.
Izabella: ressonância de uma frequência infinita...

Consolo

As lágrimas em minha face secaram,
E o ar que me beija causa um leve frescor.
Um pouco abaixo dos olhos,
Minhas lágrimas secaram
Acostumadas com a torpe dor.

Caminhamos, passo a passo, a cada dia,
Para casa, consolados,
Com a boca de um disperso sorriso.

7 de março de 2012

Um som estático.

Calma,
Pois a calma não tem pressa.
Ela nasce e acaba ali
Num estado de alegria e tristeza
Que não tem pressa.

Nasce e acaba ali
Num som estático
De paz, de duradoura paz,
Que nunca morre.

Calma,
Pois a calma não tem pressa.

Esquizofrenia Narcisista

A febre
do cheiro
e do amor
que acelera o coração
e causa náuseas
como um solo doente
e frenético
de guitarra
que assina ao pé do ouvido
vozes, vozes
de quem já te amou
e cristalinos olhares
que te giram no céu
no ápice da loucura
de uma marca sem data.

A febre
do cheiro
e do tremor
dos soluços que engolem o peito
e que agridem a garganta
num estado nostálgico
de terror
   da náusea
do amor
que acelera o coração
e não pára mais.

6 de março de 2012

Nos antigos tempos

     A fala era bem mais poética nos antigos tempos. Olhávamos um para o outro como quem vê a felicidade passar. Como quem a vê passar diante de seus olhos, e acenar, com um enigmático sorriso no rosto. A luz que atravessava a janela, não era apenas luz, era a porta da inspiração de estava aberta, com alguém a segurando pela maçaneta e chamando com gestos, para que entre, e se sente. A sala da inspiração era quieta, o som por inteiro era do silêncio. As paredes estavam cobertas de um papel verde oliva clara, enfeitado com desenhos, de linhas verticais e pequenos losangos separados ao longo delas, de um tom mais escuro. O carpete do chão era da mesma cor da parede; o sofá, bege, daqueles elegantes e de época. As mesas, e as estantes, eram de madeira pesada. Os livros eram de contos e ideias. A inspiração era a própria sala (luz da janela).
     A fala era bem mais poética nos antigos tempos. Hoje, a distância não nos permite mais os olhares cruzados, não nos permite o tempo e a fala, poética, de amigo. Hoje, essas histórias soam bem mais esquisitas, e quando me ponho a olhar para a janela (e para a luz que a atravessa), vejo ninguém na porta, e sinto a estranha sensação de ter esquecido algo lá dentro, algo não tão valioso... Talvez algum verso daqueles tempos, talvez, a chave essencial para entrar naquele lugar. Algo que deixei lá dentro, da luz; do cômodo da mente; e que sozinho não poderia encontrar, nem sequer passar por aquela porta, que jaz destrancada.
     A fala era bem mais...
                                             ...Algo que não posso mais recordar...

2 de março de 2012

Frágil

Ligações de gelo; laços frágeis
Facilmente quebrados
Por um dedo, por uma data.

Diga-me que fatos são reais.
Então exemplifique-me,
Pois os quadros na parede, e a escada,
São apenas reflexo do homem, e nada mais.

Quero entender, por que chegamos aqui?
Quero saber por que devemos aprisionar um sentido à tudo
Se a vida, tão frágil, nos ensina primeiramente sobre a alma,
Depois vêm os braços e as falas.

Essas suas teorias, tão débeis,
Tão inseguras e escassas,
Enriquecidas de podre intelecto humano,
Apenas acumulam dúvidas infecciosas no ar.

Diga-me que parte deste mundo é real,
Então justifique-me.
Pois aprendemos tudo do nosso jeito.
Quem não diria que um mais um é dois?

Mas aprendemos tudo do nosso jeito,
E só sabemos o que entendemos,
Até que o destino vos decepe a vã ciência.
Até que se dilacere a vã ciência em ligações quebradas

De neurônios, de laços
 - de gelo.

O sentido foi suspenso no universo
Por uma corda frágil,
À qual todos nós nos seguramos
Com todos os músculos da fé.

Nos seguramos ao sentido até que o universo prove o contrário.

1 de março de 2012

Mago poeta III

Movem-se as palavras
Por trás das nuvens
E da fumaça
Dançam envolta do ritual de cinzas
Dançam como labaredas
Ao som do fogo
Ao som do estalar da madeira
Movem-se as palavras
Junto à voz do coro
E dos tambores
Movem-se de letras entrelaçadas
Como uma ondulação só
De fervor e alegria
Por trás das nuvens
- Que escrevem
E da fumaça
- Que recita
O grandioso ritual de cinzas
Do imortal poeta
Do imortal mago, poeta.

Antithesis Phrenesis XVII-2

A forma
   de beijar
que mente em todas as línguas
exceto naquela
   que você não ousa falar.