27 de março de 2011

Da literatura ao poeta

A literatura é arte, assim e também vista de muitas outras formas, ela é o pensamento, é o domínio das palavras. É o modo simples - às vezes complexo para alguns - para se entender a realidade com os próprios olhos, para talvez mudá-la, ou simplesmente encantá-la. A literatura é a palavra, a construção e também a poesia. Seja ela oculta ou explícita, ela sempre estará lá, em todos os lugares, basta-nos enxergá-la, conhecê-la, entender este elemento metamorfoseado em diversas formas. Sempre presente, como ar e som, como a inspiração, rimando ou não, mas sempre com o sentido, causa e efeito, junto ao coração. Cria a emoção, a ilusão e a reflexão para a mente poética. E cabe a esta, mente poética, recriar a realidade, procurar e esculpir precisamente as palavras sobre os versos em branco do poema. Tirar do sangue e da alma o que sente para causar impacto àqueles que nada sentem. Mente brilhante, fábrica do universo, que com poucas palavras muito pode fazer (e dizer). E o poeta, que trabalha e sua como qualquer outro homem, nada pede em troca. Em vez disso, mergulha nos rios da literatura, viaja pelos verdes campos da leitura, e repousa onde há sabedoria. Nada, nada cobiça em troca... Porque, o poeta nunca termina a sua missão; não antes de falecer. Ele sempre estará a continuar escrever.

26 de março de 2011

O poeta e seu Iceberg

O poeta, em seu iceberg
Navega através dos mares
Avista horizontes e lugares
Onde, sem hesitar, segue,
E em seus novos ares
Deixa que a inspiração o leve.

O poeta navega ao nada,
Mas segue os caminhos traçados
Num mapa
Escrito em sua alma
E não resiste,
Apenas segue a maravilhosa jornada.

De alma completa,
Acorda o ser nele adormecido:
A alma poeta
Que se faz presente,
E o poeta em seu iceberg
Segue pelas correntezas
Deste mar de poesia.

Fora de si,
Busca nas palavras abrigo
E nas cavernas da imaginação
Desenha com a mão
Aquilo que lhe vive escondido.

O poeta não abandona seu iceberg
Pois ele sabe
Que nenhum iceberg é vivo
Sem poeta
E que poeta sem alma
Não é poeta.

Por Marcos santos de Porteiras Poéticas.

25 de março de 2011

Esquecido

Não há engenho nem obra
Que o leve para além da morte
Pois tu e tua glória, falecem com a memória

Desconhecido

O poeta com sua lanterna
Ilumina o mundo
E sua caverna

Tempo que se perde

Nada pra fazer
Uma noite sem dormir
Um dia sem te ver...

De Juliana Freitas

Escrever

Preso entre dois mundos,
Entre duas histórias
Sem fim e sem rumo,
Vasculho as memórias,
Prosas da escória,
Enquanto goteja lentamente,
Palavra por palavra,
Num acontecimento moribundo.

Exprimo o conhecimento
Enquanto as nuvens
São levadas pelo tempo,
E os ponteiros pelo vento.

Já é tarde
E é difícil entender.
Mesmo quando não há nada
Para escrever,
Eu insisto em o fazer.

18 de março de 2011

Todos os dias o mesmo sonho




Todos os dias o mesmo sonho


Acorda e levanta,
Desliga o despertador,
Põe o terno, a gravata, e se adianta.
Caminha pelo corredor.

Desce a escada,
Toma teu café,
Dá um beijo na mulher.
Sai pela sala; avista a estrada.

Está frio, e no chão há neve.
Tudo está vazio, e tão leve...
Tudo então se esquece,
Mas aqui, nunca envelhece...

Pega o carro,
Corre ao trabalho;
Pega o atalho,
Estaciona em qualquer lugar, pois tudo está vago.

Vai ao teu cubículo,
Ajeita a papelada.
Incessantemente, trabalha
Para mais um dia em que tudo corre ao nada.

Acorda, e levanta.
Desliga o despertador.
Põe o terno, a gravata, e se adianta,
Vaga pelo corredor.

Desce a escada,
Anestesia-se, toma teu café.
Beija a mulher e,
Sai pela porta; observa a estrada.

Mais um dia, que corre em vão,
Estranhamente do teu jeito.
O sangue que agora escorre da tua mão, é da solidão,
Da própria alma rente ao peito.

Pega o carro
E corre, hesitante em fugir...
Mas segue o atalho, e vai para o trabalho.
Estaciona, e por um instante, observa:
As mesmas coisas em seu mesmo lugar.

Árvores, nunca tocadas pelos pássaros,
Ainda carregam em suas folhas neve.
Árvores, nunca percebidas pelo sol,
Ainda são castigadas, como vaso de flor, vazio e leve.

Vai ao teu cubículo,
Observa a papelada.
(Vê: a tua existência atropelada.)
E lá se vai, mais um conto de fada...

Acorda e levanta,
Desliga o despertador.
Põe qualquer roupa e se manda,
Foge pelo corredor.

Desce a escada,
Esquece o café,
Não beija a mulher.
Segue em direção à sala,
Abre a porta e sai
Em direção à estrada.

Pega o carro,
Desvia o atalho,
Foge do trabalho,
Estaciona em qualquer lugar, alto e vago.

Procura um prédio,
Um refúgio para quando em tédio.
Um remédio, um remédio....
O tropeço num anestésico.

E assim cai, num voo breve,
Em instantes. Leve como neve...

Vaso sem flor
Corpo sem calor
Mundo incolor
Uma vida sem amor.

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Acorda... Levanta...
Não toca o despertador.
Assustado, põe qualquer roupa e, desesperado corre.
Atravessa o corredor.

Desce a escada,
E não há café,
Não há mulher.
Sai pela sala, encontra a estrada.

Observa aos lados:
Não há carro,
Não há atalho,
Não há trabalho algum.

Então corre, corre atrás de tua sombra, a que deixaste no espaço
Sozinha e gélida.
Deixaste-a no tempo, a um abraço.
Sozinha, num mundo vago.

Corre, atordoado,
Até o pico daquele prédio.
(Sente-se pesado, sente-se velho)
E lá está, em tua forma o tédio.
Vê-se, o próprio, dar as costas (preferir um corte)
E seguir para o caminho
Onde abraçaria a morte.

A última batida,
Não revela, não espera,
Não deixa sequela.
Não trás, e não leva.
Simplesmente enterra
Para sempre, sobre suas trevas...

"O lugar agora chora...
O mundo mudou.
Quando o sol aparece
E a neve derrete,
O mundo chora..."



Baseado em "Every Day The Same Dream" de Molleindustria.

16 de março de 2011

Areias do deserto

O momento é que nos traz
As sensações e idéias de quem o faz.
Traz na cabeça, e também nas mãos,
Somente as palavras que te ocorrem em vão.
Não faz menção; não tem intenção,
Apenas, o momento,
Traz-nos ao meio do deserto,
Àquilo que não está longe, nem perto.
Mas na medida certa
Para nos fazer acreditar
Numa ilusão, que cedo ou tarde será
Apagada e enterrada
Pelas areias do deserto.

O colecinador de sonhos

Sim, ainda pequeno os perdi

Todos os meus...

Cada um, um por um, pois vivi deles

E consumi os seus...

- O Colecionador de sonhos

15 de março de 2011

Liberta o medo

Liberte-se de si
Fuja do próprio; escolha a tua casa
Ainda que chova lá fora
Enfrente, saia de tua casca

Verdade que não se vê

Olha, por trás dos olhos
Pois não se sabe qual é a verdade
Uma realidade por trás dos sonhos,
Ou a real face da insanidade?

De "cera"

O sorriso que nunca muda
Não reflete; não escuta,
Opaco por trás de um véu
Faz sua peça, nunca fiel.

Há algo errado

Dias que não mudam
Tão calmos, me assustam
E o tempo que ainda é o mesmo
Nos cega, tão cedo...

De volta ao iceberg.


Cá estou, de volta ao iceberg... e, sem mais nem menos, com muito a dizer.

"Não importa a direção dos ventos
Meus ouvidos sempre estarão atentos
Sopra-me o que quiser
E eu escreverei, o que disser"