28 de abril de 2013

Vazio em volta

Um vazio, uma casa
Um assobio, uma taça
Um vinho, minha safra
Onde não há nenhum gosto.
Um espinho, uma valsa
Um pianinho, uma pauta
Um violino, e muitas notas
Onde não há nenhum valor
Escassez de vida e amor
Estupidez, carinho e calor
E as formas dos beijos
Sem cerimônias, nem sabor
Uma dívida entre os ossos
Uma dívida com o tempo
Uma ferida entre os dentes
Uma falha em meu invento
Uma fobia de libertar
Uma fobia de ser livre
Eu não sei se mais aguento
Ser o túmulo do despertar
Eu não sei se me contento
E me perco em aceitar
Ou se destruo meu entendimento
E continuo a caminhar
No vazio, numa casa
Com assobios e muitas taças
E vinho, uma safra
Onde não há nenhum gosto.

Delírio Mortal

O engano: o flerte mortal
A astucia viral das palavras
Que não se baseiam em moral
As sete línguas da sedução
Que cortam a linha do pensamento lógico
E destroem aos poucos, no decorrer do tempo
A felicidade que chega na hora da verdade.

8 de abril de 2013

Nihil

Opaco, vazio atroz
Que preenche minha fala
Minha sombra que é deixada
Como rastro de fumaça
Nas mãos do acaso inerte.

Um sentido e um flerte
Com a ilusão do encerramento do sofrimento repulsivo
Perdido em ciclos embriagados
Onde a felicidade se devora
Apenas com algumas perguntas sem respostas
Que julgam serem reais e absolutas
Quando na verdade a realidade
Nada mais é que uma criação nossa.

1 de abril de 2013

Eu a chamo de Carlste

— E com todo o seu encanto ela dançou, sozinha, com suas mãos frias atiradas ao ar, desamparada e sombria como uma tempestade que devasta em euforia, turbulenta como milhares de pratos se despedaçando ao chão. Dançarina de gestos depressivos, corrosivos, magníficos e destrutivos. Ora contida em movimentos amordaçados, ora expelida como traços rabiscados. Dona de uma frequência intuitiva, levemente subjetiva. Cheia de saltos, giros e quedas delicadas de inúmeras saídas. Assim, com todo o seu encanto ela dançou, entre uma lua e outra, entre um coração e outro, entre um sorriso e uma face de tristeza. Ela dançou, assim, e como uma vela se apagou.

Velho estado mental

Amarelo como uma antiga foto
Singelo como ferida esquecida
Cheio de significados conotativos
Perdidos em uma ideia sem sentido
Feito querido, feito esquecido
— Fala, palavra, o que não quer dizer
Estou cada vez mais subjetivo
Amargo e ferido
Sem poros nem migalhas paraninfas
Errei ao te criar
Errei ao te perder.

Minha febre

Ah, minha febre
Doce como essência de hortelã
Estranha como lentilha
Acompanhada do silencioso intervalo
Da música clássica
De um compositor francês
Ah, minha febre
Tirou-me uma festa da fantasia
Em que eu iria ver você
Vestida de heroína
E iria de motoqueiro
Só para te buscar
E levar para minha vida.