27 de novembro de 2011

Antithesis Phrenesis X

Se queres salvar um náufrago (do próprio ser),
é preciso invadir seu mundo para resgatá-lo.

Não penses que frases prontas mudariam tudo.

Antithesis Phrenesis IX

A saudade vai embora,
mas a nostalgia só aumenta quando vejo você,
e vejo que não há nós dois.

Retrofilia é uma doença,
uma doença natural,
assim como escrever.
Uma paranoia normal.

Perfeito imperfeito

Sempre quererá ter dito mais quando procurares no passado as inexistentes idealizações. Quererá acender novamente os cigarros, mas com diferentes intenções, talvez, por aspectos diferentes. Sabes que o universo é incompleto (volto a dizer), mas o é por satisfatórias razões. E sabes que ele é perfeito, mesmo incompleto, sendo imperfeito. Assim como nós, que não desejaríamos ser de outra forma a não ser o mesmo rabisco, de imperfeição.

Imagine se a vida fosse completa; perderia seu valor, e perfeição.
Imagine se fôssemos perfeitos, e perderíamos os desejos, e a perfeição.

As coisas são belas do jeito que são. Coisas feitas a Mão.

Ateliê natural

A pintura da chuva nas janelas das casas
As janelas das casas na pintura da chuva
A tinta, a escorrer pelo chão.

22 de novembro de 2011

Cafeína

O mundo; o infinito precipício
Uma eterna queda em confusões
Barrancos, depressões de alegria
Sinais de precipitação
Balões, frágeis balões de euforia
E um eterno gás na boca
O amargo gosto da cafeína.

Dois pássaros

Não se ouviram os pássaros
Quando a natureza mãe
Os chamou
Não se ouviram os pássaros
Quando a morte ecoou
De dois tiros
De dois a menos
Que seriam mil

Antithesis Phrenesis VIII

A vida e a morte
        Opostas em direções
Esperam para se chocar
Quem vive? Quem morre?

Antithesis Phrenesis VII

Procurar nas mangas do horizonte
Sem saber qual carta o destino escolheu
É perseguir a própria tragédia
Que nem o futuro proveu...

Paradoxo universal

O dinheiro não une
O bem-estar não une
A catástrofe une
A morte une
E todos são os mesmos a procurar o juízo final.

19 de novembro de 2011

Paixão de mel

Amei alguém por uma noite, em sonho. As velas se acenderam e o mundo fervia, novamente. Quem sabe, até que o sol congele de repente, eu encontre a fonte eterna de onde escorre este doce mel. Quem sabe, até que alguém congele meu sol de repente, eu não mais reconheça quem amei, tampouco, descubra que ainda existe algum mel.
Já é tarde, e minha memória não suporta mais a tua presença.
Podes perder ao me abraçar - ao relembrar - sem nada alcançar...

Cego anonimato

       As coisas estão tão organizadas e, ao mesmo tempo, tão bagunçadas... Vejo cada cidadão em seu lugar e cada rei governar, como se para sempre fosse o acaso que escolhesse os anônimos e os influentes. As pessoas nascem vivas, mas quando aprendem a pensar, caminham mortas. Que espectro é este que recosta sobre a mente humana e amortece todo o impacto do que é viver?
       Minhas ideias há muito permaneceram inertes e trancadas no quarto da inconsciência. Pairavam como pó e, como folha morta, desistiam de crescer, povoando o terreno daquele lugar onde nenhuma flor poderia crescer.
       Eis que o relâmpago das palavras me abalou e então descobri quem eu queria ser. "Sou quem eu sou. Sou quem eu quero ser". Logo que sofri tal impacto, minhas ideias chacoalharam, agora borbulhavam como se nascessem para emergir do anonimato. Passei então a semear ideias como se minha memória fosse apagada no dia seguinte.
       Creio que mais de dois terços da população do mundo ainda se deixa apagar por não acreditar nas próprias ideias. Pessoas abortam suas invenções como se estivessem programadas para nunca sair da barreira de onde o mundo é homogêneo.

       "Saibas tu que serás sempre um aprendiz, mas um eterno inventor quando descobrires que tens uma mente para pensar. Chacoalhe teu quarto de ideias. Sofra o impacto e crie. Transforme o pensamento numa explosão que só tende a atingir novas conclusões!"

7 de novembro de 2011

Diamantes só para olhar

A poesia que se estende
Como um labirinto de palavras
Com mil saídas
Não se entende
Mas compreende que as palavras
São tentativas
De amar as amantes de nossas vidas.
Apagando as pontes
Grandes pontes destruídas
Que nos levariam até elas
Nossos amores, nossas ninfas.

Um besouro em meu ouvido

Fora do quarto estava quente,
E o medo de descer as escadas o dominava.

Ninguém sabia o que ele tinha em mente,
Um inseto em seus ouvidos sussurrava.

Desce ao Aqueronte - segue em frente,
Mas nunca se esqueça daquilo que "amava".

Desce ao Aqueronte, ele e a serpente,
Pois além dos servos e a fumaça, Cérbero o aguardava.

O garoto via gente.
Gente condenada

Pessoas friamente
Enterradas, sufocadas.

Mas ninguém sabia o que ele tinha em mente,
E o revolto zumbido continuava.

E ninguém sabia o que ele tinha em mente,
Mas o revolto zumbido se irava, e gritava.

Ele tapou os ouvidos
E voltou para o quarto onde ninava.

O besouro de sangue ardente
Lá no Cócito fumegava

Enquanto o garoto inteligente
Nada entendia do que o diabo pronunciava.

Antithesis Phrenesis VI

     Sinto, a cada minuto que sou forçado a entrar neste teu mundo, perder um pouco de mim. Essas coisas que não me inspiram liberam toxinas más à saúde mental e limitam a plenitude. Desacorrente-me e deixe eu abraçar quem sou, voar eternamente para o refúgio que é dentro de mim.
     "O tempo em que as palavras apenas eram possíveis influências se acabou. Aquelas que ainda nos inspiravam foram raptadas; ninguém mais ouviu. Agora, nada mais nos resta a não ser guardar as que temos, pois tome cuidado, aquelas que te instigam são as mais astuciosas."

Antithesis Phrenesis V

Ferir a rasura sem esperança
Na espessura do coração
Revive uma criança sem expressão

Antithesis Phrenesis IV

Palavras  distantes  como
Ru ído s  entre  espaços
Que ferem a alma
                     amordaçam
                                  meus sorrisos…

Antithesis Phrenesis III

O silêncio que silencia
Cessa a todos
Menos a si

Antithesis Phrenesis II

Apagar é aprisionar
Nos dedos cores
Que o mundo não pode enxergar

Antithesis Phrenesis I

Vazios momentâneos que entorpecem
A poesia nada expressam
            Até que sejam expressados.