28 de dezembro de 2012

Contagem regressiva

O olhar no relógio. O suor a descer o rosto. Os segundos, agressivos, a tragarem constantemente o mínimo momento de um indeterminado todo de tua vida.

Infinito Azul

Um eufórico triste; um palhaço perdedor. Assim me senti após assinar um novo contrato com o amor. Ao se passarem os dias, não sei se o céu se tornava mais denso-cinza ou mais límpido-azul. Minhas palavras eram certas; subordinadas de pensamentos inspirados na esperança de cada dia. Eu dizia que a amava; ela dizia que eu a teria; e quanto mais essa luz brilhava, mais convicto a seguia. Eu estava sentado na margem do porto, olhando em direção ao horizonte, onde via as torres; os telhados; o topo das mais diversas construções do paraíso. Eu esperava meu barco. Esperava minha felicidade. Esperava... Esperava... E ainda espero por este nada. Vieram barcos dos mais variados lugares; dos povos mais estranhos. Porém vieram em busca de outros, não de mim.

Um eufórico triste; um escravo da esperança. Prisioneiro dos pretextos para o otimismo. Náufrago no mar das expectativas. Um palhaço perdedor: a esperar seu resgate no posto errado; no momento errado.

Pequeno devaneio escarlate

Equilíbrio de Vênus
Deusa de Marte
Ah, se não fosse pela tua gravidade
Meu mundo não teria claridade
Eu estaria angustiado
Afastado do sol
Num vazio sem dimensões
Perdido num abraço
Em que não há amores nem paixões!

20 de dezembro de 2012

O início do sistema perfeito

O ser humano; o segundo criador
Aquele que sobrepõe e modifica
A seu modo o que deixaram a seu dispor
Quisera domar a natureza e controlar sua perfeição
Para adquirir o trono de rei,
Ser o deus que reparte a Terra
Entre os ideais e a vastidão que não o alegra.

Quisera modificar a única e perfeita dimensão do mundo
Para que com as garras da tecnologia
Construísse a vida mais que perfeita;
De impecável aparência;
De nenhuma irregularidade ou
Fé em esperanças falsas,
Profecias e datas inexatas.

A beleza e a felicidade eram os sentimentos
Existentes desde então
Eram a palavra, o alimento e a graça do viver
Eram o ideal e a paixão
Dos filhos dum pai esquecido
Pai que dera a missão
E fora abortado —
Pelas próprias criações ferido.

O mundo perfeito
Que chegara ao fim antes de seu tempo
Tinha objetivos dispersos no ar
Prontos para serem entregues
A qualquer forma de vida em admirável harmonia
Bastava desejar que podia-se ter; ser
A Terra era o céu
O céu era onde todos queriam estar.

Evidentemente sozinho

Um fantasma esquecido no canto
Um violão desamparado ao lado da cama
Um abajur amarelo coberto dum véu
Uma estante vazia mergulhada na sépia
Uma cabeça perdida
Uma porta em perfeita miséria
A roupa embalada e dobrada em cativeiro
O medo sozinho
O sonho sozinho
A felicidade mantida
Em calabouços de silêncio
A eternidade repreendida
Em verdades oprimidas
A eternidade compreendida
Entre rasgos e feridas
De uma estranha sensação
De sempre, sempre estarmos sozinhos.