24 de dezembro de 2011

Versos cor-de-sangue

Perdoem-me se meus textos estão sujos — sujos de sangue. Não é fácil escrever, por mais que estejas acostumado, não é fácil escrever sem se machucar, sem se cortar com as lâminas do pensamento; escapar ileso do inferno das memórias quando se procura as palavras certas para a poesia. Não é fácil fingir, seja amor, tristeza ou alegria, sem sentir dor, este leve desespero, fugaz. Posso ter falhado na estética do poema, e sempre falharei. Às vezes, quase propositalmente, mas é a realidade que esculpe todos estes traços (dormentes) de dor; versos e feridas, vivos de calor — de sangue.

Perdoem-me, porque a vida já não é mais a culpada.

19 de dezembro de 2011

Dis-sonante

Ó melodia honrosa
Frágeis notas de longo alcance
Canta esta vida amorosa
Rainha de tantos romances
Ó melodia poderosa
Atmosférica à minha volta
Cheia de vigor e prosa
Música de mil notas
Fonte dos meus desejos
Inspiração dos meu arpejos
A qual dita os sons do dia
E sussurra os tons da noite
E quem diria
Que dentre tantos sons errantes
- e ruídos redundantes -
A fala seria o mais
Dissonante?

16 de dezembro de 2011

Antithesis Phrenesis XII

Pensei, ao ouvir tua voz,
Gritar às ondas que parassem de chiar
Mas meu engano era um ruído
(Imortal)
Que meus ouvidos não deixaram de amar.

Mago poeta

Abaixo do céu
Do vermelho tom da meia noite
Ouço palavras que dançam
Eufóricamente sobre um mar sem forma
E das mãos do poeta
Ondas que se lançam
Sobre cada palavra que se torna
Na desordem da matança
Uma poesia sem forma.

13 de dezembro de 2011

Aparência II

Que seja branco ou negro, quem sempre nos espera é o preconceito. Mas se estiver em questão uma face de tristeza, quem primeiro aparece é o desprezo.

Aparência

Certos conceitos ferem, ferem aos que causam dor. Pois sabemos que nunca alguém quis que julgada fosse sua opinião, mas a flecha de quem fere sempre acerta aquele que não considera um irmão.

Seja o sol

Ainda que seja o sol a esperança do alvorecer:

Que me traga a felicidade pela janela da manhã. Mas se não puderes me enxergar dentre tantas casas da discórdia, que sejas discreto. Como a ansiedade que toma forma e esmaece ao anoitecer.
Talvez, mais tarde, no céu eu te procurarei, contudo, se sobre as nuvens eu não te encontrar, que a luz da manhã se entardeça, e então como palavras que correm ao mundo, sem ninguém perceber, discreto serei.

Antithesis Phrenesis XI

Saber que um dia perderei minhas mãos
de tanto apagar e escrever,
me conforta em conceber a alegria
de não mais viver.

Não mais lutar e perder.
Não mais desejar ou querer.
Porque nessa vida em que todo mundo ganha,
não se faz ninguém vencer.

27 de novembro de 2011

Antithesis Phrenesis X

Se queres salvar um náufrago (do próprio ser),
é preciso invadir seu mundo para resgatá-lo.

Não penses que frases prontas mudariam tudo.

Antithesis Phrenesis IX

A saudade vai embora,
mas a nostalgia só aumenta quando vejo você,
e vejo que não há nós dois.

Retrofilia é uma doença,
uma doença natural,
assim como escrever.
Uma paranoia normal.

Perfeito imperfeito

Sempre quererá ter dito mais quando procurares no passado as inexistentes idealizações. Quererá acender novamente os cigarros, mas com diferentes intenções, talvez, por aspectos diferentes. Sabes que o universo é incompleto (volto a dizer), mas o é por satisfatórias razões. E sabes que ele é perfeito, mesmo incompleto, sendo imperfeito. Assim como nós, que não desejaríamos ser de outra forma a não ser o mesmo rabisco, de imperfeição.

Imagine se a vida fosse completa; perderia seu valor, e perfeição.
Imagine se fôssemos perfeitos, e perderíamos os desejos, e a perfeição.

As coisas são belas do jeito que são. Coisas feitas a Mão.

Ateliê natural

A pintura da chuva nas janelas das casas
As janelas das casas na pintura da chuva
A tinta, a escorrer pelo chão.

22 de novembro de 2011

Cafeína

O mundo; o infinito precipício
Uma eterna queda em confusões
Barrancos, depressões de alegria
Sinais de precipitação
Balões, frágeis balões de euforia
E um eterno gás na boca
O amargo gosto da cafeína.

Dois pássaros

Não se ouviram os pássaros
Quando a natureza mãe
Os chamou
Não se ouviram os pássaros
Quando a morte ecoou
De dois tiros
De dois a menos
Que seriam mil

Antithesis Phrenesis VIII

A vida e a morte
        Opostas em direções
Esperam para se chocar
Quem vive? Quem morre?

Antithesis Phrenesis VII

Procurar nas mangas do horizonte
Sem saber qual carta o destino escolheu
É perseguir a própria tragédia
Que nem o futuro proveu...

Paradoxo universal

O dinheiro não une
O bem-estar não une
A catástrofe une
A morte une
E todos são os mesmos a procurar o juízo final.

19 de novembro de 2011

Paixão de mel

Amei alguém por uma noite, em sonho. As velas se acenderam e o mundo fervia, novamente. Quem sabe, até que o sol congele de repente, eu encontre a fonte eterna de onde escorre este doce mel. Quem sabe, até que alguém congele meu sol de repente, eu não mais reconheça quem amei, tampouco, descubra que ainda existe algum mel.
Já é tarde, e minha memória não suporta mais a tua presença.
Podes perder ao me abraçar - ao relembrar - sem nada alcançar...

Cego anonimato

       As coisas estão tão organizadas e, ao mesmo tempo, tão bagunçadas... Vejo cada cidadão em seu lugar e cada rei governar, como se para sempre fosse o acaso que escolhesse os anônimos e os influentes. As pessoas nascem vivas, mas quando aprendem a pensar, caminham mortas. Que espectro é este que recosta sobre a mente humana e amortece todo o impacto do que é viver?
       Minhas ideias há muito permaneceram inertes e trancadas no quarto da inconsciência. Pairavam como pó e, como folha morta, desistiam de crescer, povoando o terreno daquele lugar onde nenhuma flor poderia crescer.
       Eis que o relâmpago das palavras me abalou e então descobri quem eu queria ser. "Sou quem eu sou. Sou quem eu quero ser". Logo que sofri tal impacto, minhas ideias chacoalharam, agora borbulhavam como se nascessem para emergir do anonimato. Passei então a semear ideias como se minha memória fosse apagada no dia seguinte.
       Creio que mais de dois terços da população do mundo ainda se deixa apagar por não acreditar nas próprias ideias. Pessoas abortam suas invenções como se estivessem programadas para nunca sair da barreira de onde o mundo é homogêneo.

       "Saibas tu que serás sempre um aprendiz, mas um eterno inventor quando descobrires que tens uma mente para pensar. Chacoalhe teu quarto de ideias. Sofra o impacto e crie. Transforme o pensamento numa explosão que só tende a atingir novas conclusões!"

7 de novembro de 2011

Diamantes só para olhar

A poesia que se estende
Como um labirinto de palavras
Com mil saídas
Não se entende
Mas compreende que as palavras
São tentativas
De amar as amantes de nossas vidas.
Apagando as pontes
Grandes pontes destruídas
Que nos levariam até elas
Nossos amores, nossas ninfas.

Um besouro em meu ouvido

Fora do quarto estava quente,
E o medo de descer as escadas o dominava.

Ninguém sabia o que ele tinha em mente,
Um inseto em seus ouvidos sussurrava.

Desce ao Aqueronte - segue em frente,
Mas nunca se esqueça daquilo que "amava".

Desce ao Aqueronte, ele e a serpente,
Pois além dos servos e a fumaça, Cérbero o aguardava.

O garoto via gente.
Gente condenada

Pessoas friamente
Enterradas, sufocadas.

Mas ninguém sabia o que ele tinha em mente,
E o revolto zumbido continuava.

E ninguém sabia o que ele tinha em mente,
Mas o revolto zumbido se irava, e gritava.

Ele tapou os ouvidos
E voltou para o quarto onde ninava.

O besouro de sangue ardente
Lá no Cócito fumegava

Enquanto o garoto inteligente
Nada entendia do que o diabo pronunciava.

Antithesis Phrenesis VI

     Sinto, a cada minuto que sou forçado a entrar neste teu mundo, perder um pouco de mim. Essas coisas que não me inspiram liberam toxinas más à saúde mental e limitam a plenitude. Desacorrente-me e deixe eu abraçar quem sou, voar eternamente para o refúgio que é dentro de mim.
     "O tempo em que as palavras apenas eram possíveis influências se acabou. Aquelas que ainda nos inspiravam foram raptadas; ninguém mais ouviu. Agora, nada mais nos resta a não ser guardar as que temos, pois tome cuidado, aquelas que te instigam são as mais astuciosas."

Antithesis Phrenesis V

Ferir a rasura sem esperança
Na espessura do coração
Revive uma criança sem expressão

Antithesis Phrenesis IV

Palavras  distantes  como
Ru ído s  entre  espaços
Que ferem a alma
                     amordaçam
                                  meus sorrisos…

Antithesis Phrenesis III

O silêncio que silencia
Cessa a todos
Menos a si

Antithesis Phrenesis II

Apagar é aprisionar
Nos dedos cores
Que o mundo não pode enxergar

Antithesis Phrenesis I

Vazios momentâneos que entorpecem
A poesia nada expressam
            Até que sejam expressados.

30 de outubro de 2011

Miradouro Carmesim:..

Arquivos da Psique [10]

       "Oh Psique, por que escolheste as fissuras da Terra para se esconder? Mesmo que não haja mais luz, eu te encontrarei. Mesmo que me abandones, eu te perseguirei, agora, como o corpo que procura a alma. Pois sei quem és, além de frágil essência, és Psique, a minha psique. Fragmento o qual deixei cair no maior perigo de meus descuidos. Minha alma, peço-lhe perdão, pois tardei em bradar aos trovões que tu és minha. Preciso de ti, agora que não me restam miragens, ilusões, nem a presença de mim mesmo."

Trovejam notas do céu
Notas de sangue

Que banham meus sonhos
Submersos no fel

Sonhos de memórias antigas
De sentidos gélidos
Como um álbum de fotografias
De páginas muito velhas...

Reminiscências amarelecidas
De capturas perceptivas
Sempre recentes e eternas
Como histórias desaparecidas.

Deixaste-me perante as portas do céu
Num falso vale de infernos
Cobriste-me com a mais cínica paixão
Numa cilada durante décadas
Para que a seguir do dia em que fostes embora,
Eu nunca mais te entenda por completo.

Atuaste de forma excêntrica
Até que se esgotassem meus elogios

Mas, confesso-lhe, pequena flor:

Teu olhar cristalino me congelou para sempre na tablatura do deserto.
Dilacerando-me em uma forma sem pedaços,
Arrebatando minha própria alma para que não houvessem traços
De faíscas ou de luz, que me salvassem do inferno.

Atirando-me à queda
Das batalhas com ferro
Nas quais logo me perdi
E tornei-me cego.

Abandonado pela alma
Enfraquecida pelos ruídos
E pelos dizeres externos.

Desamparada e,
Agonizante sobre as ruínas
De mármore
De sangue
Num sussurro frio e gélido.


       Foi preciso que no cárcere eu me perdesse para que minha alma encontrasse, talvez, a minha catarse. Para que na margem do desamparo, das rochas vermelhas, do miradouro carmesim, alguém se sentasse ao meu lado. Porém, certo tempo demorou até que eu descobrisse que esta personagem nada mais era do que simplesmente Eu dentre os escombros no espaço. Agora que descobri o verdadeiro valor de estar sozinho, a presença de minha alma muito mais valia.

Espero para ser liberto,
Quando me reencontrar com Psique.
E então serei livre
Finalmente podendo dizer
Adeus ao Deserto...

"De rochosas pinturas
Famosos rabiscos de dispersos retoques
De nenhuma chama impura
E uma só história..."

29 de outubro de 2011

E o deserto se silenciou [9]

O deserto se silenciou
E os ruídos se acalmaram
Os vazios se aglomeraram
E os vaga-lumes se separaram

Assim foram narrados meus dias desde então.
Sem vida, nem movimento.
Apenas aqui o vento,
A velha areia, e as montanhas carmesim.
E eu, a vagar sozinho,
Como a morte que procura a mim.

       Estar sozinho é como verdadeiramente estar a um passo do precipício, onde à frente está a morte, e em volta os espinhos. Não temos para onde correr até que os céus nos iluminem a alguém. E enquanto eles permanecem selados, a angústia nos aprisiona na indecisão entre esperar ou morrer. Porém, o único meio de escapar dessas opções seria pela fé.
       Então eu me pergunto, onde está a minha fé?
     Sei que ela não se foi, mas encontrá-la dentre os escombros de minha alma seria um grande desafio. Minha fé poderia estar num lugar bem longe daqui... De onde ecoam os lamentosos e incrédulos gritos de Psique; como quem pede por socorro, mas em silêncio, gritando para dentro de si a rendição, e desistindo da própria vida.
        Mas eu o ouvi.
      E a cada noite em que sonho observo-o de lá das nuvens: um gato solitário e pensante, sentado numa superfície rochosa, quase desaparecido nas profundezas dum abismo. Ele olhava triste para algo que lá embaixo, na escuridão, se formava. Talvez fosse um desejo, talvez uma miragem. Mas logo desviava o olhar e emitia um miado curto, e gélido, que ecoava para o infinito adentro das trevas; e tornava para dentro de uma fissura que se encontrava logo atrás de si, na parede daquela "garganta" do deserto. E lá ficava, talvez escondido, enquanto o sol lá em cima o condenava com os últimos raios do crepúsculo, emitindo ondas vermelhas de nostalgia.

"Lembranças que se foram, que formam e transformam, reminiscências em aurora.
Estrelas do agora, há muito envelhecidas na memória,
Desabando sobre si numa supernova."

23 de outubro de 2011

Última tarde [8]

       Quando acordei, o clima novamente estava seco. Olhei ao redor e, como se a profecia dos meus sonhos tivesse se revelado, Psique não estava mais lá.

Fiquei decepcionado, comigo, com ele,
E novamente pensando nela.
Não sei quanto tempo se passou,
Mas se existe uma coisa que eu sei bem
É que memória não tem data.

Nela escolhemos o que armazenar.
Escolhi pois guardar sua face, seus olhos.

Nela... escolhemos o que guardar,
E a lembrança para sempre brilhará.

Psique seria o único então
A me libertar disso.
E seria então, o único a resgatar meus sorrisos.
Mas deixara pedaços pelo caminho,
Deixara o corpo de uma amizade, em membros distorcidos.

- Arquivos da Pique

22 de outubro de 2011

Última tarde [7]

       Fomos além de suas planícies, como filósofos ambulantes, perscrutando as mais perigosas, formosas e ásperas montanhas do deserto. A chuva havia dado tempo suficiente para que tudo isso ocorresse, agora que se lançava novamente, era hora de sentar, refletir e descansar. Procurei um lugar que ainda permanecesse seco para nosso descanso, e lá ficamos, fixos naquela esplêndida altitude, observando de uma nova perspectiva o lugar de onde viemos. Dali, tudo o que tínhamos visto antes se tornava uma bela paisagem. Um panorama magnífico em que avistávamos os quatro cantos do deserto se encontrarem com o horizonte; além disso, apenas o radiante céu que gradualmente perdia sua cor. O sol, que já chegara ao seu fim, ainda sussurrava aos nossos olhares  com seus últimos, os mais belos, raios cristalinamente vermelhos  como seria eterna aquela noite. Arrebatando o céu azul, e revelando a nós um miradouro carmesim. Contrasteava os pássaros, aparentes rabiscos, que vagueavam sobre aquela vasta planície, e chamava a atenção para a densa negridão que se formava na garganta dum abismo, a consideráveis metros de distância. Era como uma enorme fissura, um acidental corte, ou uma pequena cicatriz na face da Terra. Mas não deixava de ser o maior dos perigos de nossos descuidos.
        A chuva continuava, agora mais calma, enquanto chegava a noite. Produzia um som, uma incessante melodia, acompanhando como uma partitura as estruturas das montanhas; ambientalizando, e transformando, aquele momento numa das mais inesquecíveis memórias de minha vida. Eu, Psique, e o solitário deserto, silenciosos, emitindo histórias em segredo pela textura de cada olhar. Quando a lua surgiu, e se pôs lá no meio do céu, fiz minhas rezas e selei o olhar. Simplesmente recostado numa parte da montanha, que oferecia como um teto, uma de suas caricaturas rochosas. Então adormeci, mergulhando no submundo profundo das memórias. Não sei se eram reflexos do que meu espírito, no mundo real, observava. Mas pareciam bastante verdadeiras para o contexto dos meus sonhos que, geralmente, são uma convulsão de pensamentos sem nenhum nexo. Eu via Psique (como se estivesse acordado) aflito, reprimido pelos trovões daquela noite. Ouvi-lo pela primeira vez, mesmo que em sonho, miar, talvez pedindo por socorro. Eu estava ali, mas não conseguia me mexer, apenas presenciava seu terror, que por fim se transformava num pesadelo para mim também. Eu o via, e ele olhava para mim. Logo então o senti, como se estivesse por baixo de sua pele, e ele olhou para dentro dos meus olhos como se conversasse com tudo aquilo que eu sofria, como um choque, uma ligação diretamente da alma; da psique; dos olhos negros daquele simples gato. Eternos e efêmeros segundos, em que vi, e ressenti, a dor de ser abandonado; e a dor de ter que abandonar.

Psique se virou, lentamente, e me deixou.

O peso de tudo o que estava aprisionado; o medo, a aflição, falou mais alto. Ele se foi, e tudo o que deixou foi apenas um rastro de lembranças e carinhos despedaçados pelo chão.

- Arquivos da Psique

15 de outubro de 2011

Abdul e Psique [6]

       Três dias se passaram. Durante esses, vivi e aprendi com Psique. Ao seu lado, minhas ideias se tornaram mais claras; o valor da sua companhia proporcionava-me segurança. Certas vezes, tinha a impressão de que (em meu subconsciente), já entendia do que ele, por gestos, fazia-me refletir. Porém, se realmente eu soubesse, sua presença ainda seria fundamental para que eu resgatasse os princípios que esqueci.
       Era um simples gato, de aparência frágil, mas com uma alma brilhante dentro de si. Em certos aspectos, poderia até dizer que ele era parecido comigo: em seu olhar que se perdia nas imperfeições do horizonte; pelos traços estreitos e finos, de tristeza, que transcorriam em sua face.
      Como disse, éramos dois, como a um só. "Mapeando" o deserto e procurando respostas para nossas mazelas. Sabíamos que cada um ali conhecia bem as próprias dores, e estávamos cientes também que não compartilharíamos elas (não com palavras silábicas), pois, em nossos longos silêncios, confessávamos um ao outro essas palavras que nenhuma outra linguagem poderia expressar. Ele me trazia os velhos conceitos, e eu, era a ponte que o ajudava atravessar as montanhas e nossos obstáculos.
     E assim se passaram dois dias e meio, quando, no fim de tarde de segunda-feira, enquanto o sol se punha a adormecer, a chuva severa novamente se iniciou. Logo quando nos víamos nas mais altas montanhas do deserto, deixando para trás apenas um abismo inexplorado.

- Arquivos da Psique

11 de outubro de 2011

Albedo [5]

       Viraste meu mundo do avesso, pequeno inferno. Ultimamente, já não entendo mais qual parte do mundo é real, ou imaginação. Mas vi um gato vagar por aqui. Não sei quanto tempo se passou, nem se estou velho demais, porém as cores eu ainda enxergo bem, pois, ele era laranja com algumas manchas de cor marrom. E magérrimo. Poderia ser ideia do pensamento para que eu não me sinta absolutamente sozinho, como poderia ser alguma resposta de Deus. Não sei onde, no poço onde estou, encontrei fé, porque, Ele ouviu minhas preces.
       Certo dia, estava a passear por entre as montanhas carmesim, quando me deparei com passos delicadamente sutis. Não deve ter notado minha presença, ou apenas ignorou, mas dava voltas pelos caminhos já percorridos como quem espera para ser encontrado. Caminhava, pelos becos, sempre rente às montanhas, como se fossem seu único refúgio. E eu a observar, como aqueles movimentos frágeis de um gato faminto me fascinavam. Chovia, mas miseramente em relação à tempestade de antes, estava cessando. Era a metáfora perfeita para meus problemas que começavam a se resolver. Estranho é que, mesmo chovendo, ele não procurava abrigo para se esconder. Senti que precisava ser encontrado.
       Eu, então, o acolhi. Era meu único amigo na imensidão do deserto. Não nego que eu estava faminto, mas resisti, e compartilhei o pouco que tinha. Éramos dois, como a um só.

Abdul, e Psique, assim como o chamei.

- Arquivos da Psique

Jamais [4]

       Mesmo que o tempo tenha enterrado suas pegadas, eu ainda as vejo na areia... Como se seu olhar não mais me percebesse, mas sua voz ainda permanecesse em minha cabeça, repetindo, várias vezes, exatamente como me chamava, de Abdul, e de amor. Mas a cada ponto, ecoa lá no fundo do meu coração, o ruído que deixou da nota interrompida. Nós, juntos, seriamos uma canção tão perfeita. Já faz dois meses, e eu continuo a escrever cartas ao vento. Minhas palavras estão secando. As montanhas carmesim estão se acinzentando. O sol se põe, e eu vou me ajeitando, para mais uma noite pensando em ti. Alimentando esperanças enquanto, na fila, espera a raiva que fervilha de vingança.
       Cárcere, filho rebelde da Catarse, por que não me deixa em paz? Por que não extirpas do meu pensamento, e contigo, leva todos aqueles momentos? Não me faças realizar a desistência; lançar-me de joelhos ao chão e esperar que, em frações de segundo, a tempestade de areia corroa-me até que eu vire poeira. Por que é tão difícil aceitar (ou esquecer)? Simplesmente porque não fui preparado para um jamais. É tempo demais. Consta que o infinito é distinto e homogêneo, mas carregá-lo nos braços, seja ele prometido de eternidades ou vazio como um jamais, deve ser perturbador... O que fazer, então, se não vou esquecer? Lamentar, desamparadamente lamentar, se não a morte, ou enlouquecer.

28 de setembro de 2011

Nigredo - [3]

      "Nossas perdas são estratégias da vulnerabilidade para nos derrubar". Como fotos, dizeres e aparências arquivados em uma praça no passado à qual nunca conseguiremos voltar. Estas "avenidas" da memória, antes palcos de festas, agora nada mais apresentarão do que desconforto e agonia. Lembranças, perdidas, que não mais brilharão, amordaçam as esperanças e rasgam minhas feridas.

       Frágeis e reluzentes estrelas que sucumbiram às trevas.
       Sem pontos no céu, sem rumo na terra.

      Os postes de minha memória se apagaram, e mesmo que o sol a clareie, não voltarei àquelas ruas para procurá-la. Aqueles lugares me assustam tanto quanto uma assombrada casa. São emoções, como touros bravos e fortes, que me machucam.
       Sofro, indignado, atormentado. Perdido neste deserto, no mesmo em que vivi há anos, mas como nunca o vira antes. Queria apenas uma companhia que suprisse tua ignorância. E um cálice que saciaria minha intolerância. Sumiste, talvez, porque fora incapaz de entender minha loucura. Porém, de qualquer maneira, agora não há nem motivação que me proteja da chuva.

- Arquivos da Psique

27 de setembro de 2011

Dilúvio - [2]

Levou a ventania
Tudo o que o tempo deixou
Mas desde que você se foi
Chove há dias

Como pode
Em meu vasto deserto
De montanhas carmesim
Chover há dias?

Mandaste um dilúvio
Em nome de tua glória
Devastar minha memória?
Enganar-te-á em tua escória!

Oh, rochosas pinturas
Famosos rabiscos de dispersos retoques
De nenhuma chama impura
E uma só história

Minhas formosas pinturas
Filhas do deus sol
Não desmanchem aos insultos da chuva
Nem descansem no brilho da lua
Insistam por suas vidas
Crianças do deserto
Não desistam das securas feridas
Que por fim se deem ao inferno!

Chove sobre as montanhas carmesim
Sem vida, em silêncio
Dentro de mim
Onde foi que se dissipou aquele meu mundo
Sem ti?

Antes existisse
Do que colidir com minha saudade...

O deserto sem ti é seco, imenso e deserto.
Exatamente como deveria ser
Mas eu sempre preferi que, ao teu lado,
Fosse apenas uma miragem.

Talvez mandaste o dilúvio para protege-me de mim mesmo, amenizar minha loucura.
Contudo, o fim não foi esse.


- Arquivos da Psique

26 de setembro de 2011

Hai-kai [3]

As flores emudeceram
O jardim não floriu
A morte aplaudiu.

Hai-kai [2]

Sentado na margem do desamparo
Um amigo sentou ao meu lado
Ele era Eu.

21 de setembro de 2011

Caro amor sincero

Não diga que me amas, pois não amas. O brilho de teus olhos não é mais que uma substância ilusória. Teu olhar, inspirado, nada mais é que um teatro. Quer-me preso às tuas teias amorosas? Suponho que não. Mas tudo indica que, de forma astuciosa, tu cedeste à tua paixão, e esta, logo quer-me ver ao chão. Embrulhe-a num papel qualquer e deixe que se dissolva no mar. Só assim, em forma real, teus brilhos e olhares, embora poucos, serão verdadeiros. Não deixes que a paixão apague meus defeitos e transforme-me num príncipe encantado, apenas, deixe-a morrer e o amor falará.

20 de setembro de 2011

Protótipo - [1]

Um gato laranja e magro,

sentado pensante

na margem do seu desamparo.

Laranja e magro, a observar

da superioridade das rochas vermelhas

Algo que lá embaixo se forma, uma miragem.

- Arquivos da Psique

18 de setembro de 2011

Poesia descrita

Se, de tanto escrever, já não entendo mais os espaços que as vírgulas restringem, qual seria o meu entendimento, então, depois de tanto viver?

Velha Casa

       Embora a catarse não tenha atingido, o atormentador espírito do cárcere o deixou. Embora lhe rasgassem o peito com agulhas, traçando os nomes de seus infernos, consta entorpecido, mesmo que no deserto, entorpecido e em paz.

       Dias atrás estivera dentro de um dos seus purgatórios, uma velha casa de madeira. De certa forma, uma infecção, corrompida pelo contágio de fortes energias; interrompida pelas garras da própria sina. Em seu interior ouvia-se um som latejante, efêmero e infinito como de cristais energizados pela lua, que por um toque, soam dias e noites cantando incessantemente como o vibrante "sol" do violão. Velha e bamba casa, que pendia certas vezes para um lado, depois para o outro. Indecidida e suspensa sobre a vida e a morte numa fração irresolvível.
       Entorpecida de dor, temia que tocassem em suas paredes que, contraídas e envergadas, gemiam emitindo um rangido ensurdecedor. Triste e vazia casa, que por um longo tempo fora o lar de um casal. Antes era bela, bem decorada, aconchegante e perfumada. No momento, mal se podia respirar. Era quente e abafada. Enxergar com nitidez também era difícil, o ambiente fazia-se turvo como se um denso gás ali pairasse e embriagasse a todos que nela entrassem; derrubando-os numa depressão melancólica a ponto de arrebatar a vida.
       Caminhava sem medo, com calma, pelo corredor que dava para a sala principal, e consigo, carregava uma garrafa de álcool. No caminho, um dos outros cômodos lhe chamou a atenção. Visitou aquele quarto, parou no tempo e deixou acontecer. Deixou as lembranças acontecerem, como hologramas perfeitos, sobre seu olhar. Deixou-se consumir por um instante, deixou-se levar numa viagem torturadora com altas doses de nostalgia; numa frequência inimaginável. Sentiu a sensação de olhar para trás e querer abraçar tudo aquilo que não era memória, mesmo que por um momento (eterno e descontínuo); de precisar desfazer-se em lágrimas, perder a razão; clamar por suicídio, envolver-se naquele gás mortífero e transformar-se numa partícula. Observava cada movimento, olhar (como se vivesse entre estes), e ouvia cada palavra como se ecoasse de um lugar distante e sombrio do seu consciente. Formas irreais que a cada segundo, com seus gestos e formas, intensificavam a transformação de amor em revolta. Aquelas formas irreais, simplesmente irreais como cristais energizados pela lua, efêmeras e infinitas, aos poucos se deformavam.
       Abaixou a cabeça, enxugou os olhos com as costas das mãos e virou-se devagar. Tornou para a sala, o coração da casa, indiferente de qualquer outro espaço vazio. Pensou um pouco, consternado, e se desfez, libertando todas aquelas lágrimas que aprisionava, aos prantos. Folheou as páginas daquele velho capítulo, revirou a casa de seus pensamentos e, sem hesitar, derramou o álcool em abundância, alagando o chão seco da sala. De repente, uma entre muitas lágrimas, dispersa em seu rosto, escorreu flamejante. Carregada de fortes emoções, mas transparente como todas as outras. Bastou que tocasse o chão, e o fogo nasceu, proliferando-se rapidamente. Chamas enriquecidas de liberdade que consumiam a sala, logo, alastraram-se vorazmente por toda a casa, envolvendo-o também (o prisioneiro que se libertava). O fogo se espalhou e assim envolvia toda a casa que, emitindo ensurdecedores ruídos, aparentemente gritava. Porém, não durou muito, o silêncio gradativo anunciou a chegada do seu fim.
       Queimava ali a velha casa de madeira, infecciosa e doente, que por pouco não devorara o coração de quem nela viveu. A "velha" casa, como um parasita habitando o coração, que infeccionaria dali até a morte.

       "Por mais que o fogo ainda arda dentro de ti, não te deixes abater, pois o inferno já se apagou."

       Embora a catarse não tenha atingido, com o fogo do próprio inferno, deixou cinzas sem lembranças. Mesmo que com malditos nomes costurados no peito, o que importa agora... É continuar em paz...

17 de setembro de 2011

Rubricas Fúnebres

É desanimador saber que minhas confissões desoladas apenas revelam o que muitos não querem entender. É triste perceber que os níveis principais da personalidade foram desocupados de atenção. O que na vida se insere então se muitos se deixam levar pelas falsas irrealizações? Não existem; sim, elas nunca existiram, apenas são fantasmas sinônimos da ausência de fé, ideia a qual asfixia muitos desde então. Fatos desenterrados da própria angústia que, de forma avassaladora, detém a inspiração, a única inteligência incomum entre todas, aquela que num desastre regata todas as suas forças para erguer, mesmo que com frágeis cordas, um edifício destruído da memória. Fatos desenterrados da própria angústia que alimentam, somente e notoriamente, a falta de fé. Talvez não entendam o quão seja destruidor admitir as próprias cinzas, nem mesmo o ardor causado pela inexistência de vivacidade em nossas vidas, porém, cada um que se diz derrotado e infeliz assina, paulatinamente, a cada dia que se passa, a sua própria carta de óbito.

Teia Ideal

As coisas que Deus não preparou para ti, mas que parecem estar em dimensões perfeitas com a tua vida, apenas acontecem como propaganda do diabo, com prazo de validade. Logo se dissiparão como uma imagem na fogueira e, de forma nostálgica, tragarão tua consciência pela dependência do engano por uma verdade. Tê-las a longo prazo custará teu tempo e tua alma. Não te encarceres numa ilusão, nem lamente pela morte da mesma. Se, no espaço, perderam-se, é porque de forma alguma deverão voltar. Pense, reflita, e siga "Emfrente". Pois Deus, num ponto incalculável e mais preciso de teu futuro, já esculpiu o mais belo engenho para a tua vida.

16 de setembro de 2011

Aceitar

Como pássaros que voam para o nunca mais, penso eu, livres seremos cônscios deste "jamais". Tomar consciência de que podemos ser livres no interior das grades, nos permite, pesados como concreto (sem fé), que aceitemos que a leveza do vento seja incapaz de nos carregar. Que, inquestionavelmente, limitemos a expansão do conhecimento, apenas por aceitar, e aceitar.

Irredundante

Descobri no decorrer das mesmas ciladas
Que a repetição da palavra
Consiste em memorizar.

Paraíso Perdido:..



Veja este vídeo no canal

9 de setembro de 2011

Olhos sobre os olhos

Por que cobiçamos tanto a liberdade exterior se nem a liberdade interior nós conquistamos? Por que lutamos tanto por um título, a fim de reconhecimento, se nem mesmo sabemos quem somos? Por que procuramos endereços em todas as ruas e avenidas sem nunca termos perscrutado o lugar onde moramos; onde estamos confortáveis dentro de nós? Por que os olhos não veem mais do que um traço real? Por que confiam tanto no mundo "leal"? Por que os soterrados olhos da mente, estes sábios, nunca questionaram o porquê de assim ser? Por que, no decorrer do tempo, deixaram em seu silêncio esta realidade tanto valer? Desenterre-os. Pois cada um tem um par de olhos, estes sábios olhos, que precisam ser usados. O que a sociedade há de ser sem eles senão um teatro transparente ao que todos são vendidos? Desenterre-os, ou você será enterrado num cemitério onde jamais poderão ser encontrados. Desenterre-os, só assim verá que a própria superfície é um subterrâneo. Desenterre-os, estes valiosos, os únicos; olhos sobre os olhos, estes que verão a realidade.

O Cárcere: poesia sem luz

Os cantos sobre o quarto, a fraca luz amarela e trêmula; a trêmula, a fraca melodia sobre os teus dedos, tudo isso a desenhar, esboçar com largas curvas e voltas, o ambiente de teus recônditos. Os cantos sobre o quarto; o quarto de escombros. Teus sofridos sentimentos que latejam rente ao peito. As adagas da memória enferrujadas de passado. As foscas palavras encarceradas no anteontem. O cego ambiente de teus recônditos. Tudo isso a lhe pesar sobre o peito e esmagar tuas costelas, consumindo o folego e o teu descanso, lhe torturando sem sequelas. E os cantos sobre o quarto a observarem, silenciosamente, na cama, o contorcer de um corpo, a dor de um câncer a se formar. O acúmulo de palavras não ditas, as palavras malditas, enterradas nas paredes do estômago. Um paradoxo, uma metamorfose, as concretas reminiscências a se revelarem em pequenos frascos de história. Lágrimas marmóreas de inexistência, carentes de um afago amigo. O grito sem função, o som em oculto. Chove em silêncio dentro de ti, e nesta surda tempestade uma chama revoltosa se alimenta de toda a matéria existente, e devora com rebeldia todo o sentimento presente. Abaixo dos olhares dos cantos do quarto, um borbulhar escarlate, um corpo pulsante de amor, ódio, e outras substâncias.

8 de setembro de 2011

Hai-kai [1]

Enaltecidos pela lua
Como luzes piscantes
Os cristais sobre as ondas.

3 de setembro de 2011

Olvido

Cai na escuridão do esquecimento
Aquilo que nunca achou que um dia
Seria apenas frio e neve.

Última poesia para os olhos.

       Que poesia a ti expressariam meus lábios se toda a arquitetura de meus versos provém da inspiração que teus olhos me trazem? Como poderia eu compreender o teu sentimento, se teus olhos para sempre se fechassem? Seria como me despejar na vastidão do espaço sem que eu tenha rastro algum do caminho de volta para casa. Porém, seria isto um modo de dizer que não me quer ouvir, e sim, sentir? Como um convite para que eu me aproxime, e seja banhado pela maré dos teus sentimentos? Ah! Tão bom é sentir-te segura, a esperar, serena sobre esta jangada, neste mar de sensações. Percebes, só de ouvir, que sozinhos estamos aqui. Presenciando a vastidão e a calmaria dos sonhos que foram esquecidos entre o céu e o mar; resgatando a falha existência daqueles que ainda não se foram. E tu, só a sentir, sem com os olhos iluminar a mim.
       Um ponto, dois pontos de vaga essência... E o teu silêncio me atormenta. Não tornará tão cedo abrir teus olhos; pois num ar puro de dormência, espera-me, com paciência. Deixe-me então, aproximar-me. Compreender-te dentre os teus abismos, se é o que queres. Deixe que, neste milésimo entre segundos, eu lhe transporte para o infinito, num só toque, suspiro, em que se traduzem todas aquelas palavras de nossos sentidos. Deixe-me, pelas entrelinhas, costurar com palavras os teus vazios, preencher-te, com um beijo, a alma e o sorriso. Recitar-lhe numa linguagem indecifrável, a mais bela poesia: um beijo; aquele que pode ler nas entrelinhas. E, mesmo que não apareçam a mim, teus olhos muito me disseram palavras encantadoras, as mesmas que agora ponho-me a transmitir-lhe duma forma silenciosa.
       "Um ato de beijar é como ler nas entrelinhas; uma pronúncia silenciosa do que os olhos não disseram." Versos embriagados, talvez até sem sentido, desenhados na pétala de uma flor, que tímida, desabrocha agora lentamente. Abra teus olhos, pois, linda flor.

31 de agosto de 2011

Amigo, Poeta

Por que a rendição, amigo?
A vida te enganou?
Se a ausência de tuas palavras
Significasse o esquecimento e o conforto,
Eu poderia dizer que nada mudou.
Elas apenas estão inertes,
Intactas, no mesmo lugar onde as deixou,
Na sala do teu coração (o vazio coração).
Fugira para as montanhas há algum tempo,
Sem avisos, sem voltar...
Por que a rendição, amigo?
A vida te machucou?
Por mais que esteja ferido,
Ela quem lhe mostrou o poeta que se tornou.
E uma vez poeta,
Sempre poeta!

Das porteiras, ainda tens a chave?
Da sombra daquelas árvores
Não sente saudade?
Não deixe que morra de fome,
Que a poesia em ti acabe.

Eu sei que é longa a estrada,
E que por ela encontrou muitos espinhos,
Mas não vale cortar a fala
E que perca teus sentidos
Por uma leve imperfeição
Na aurora do teu destino.
E se foi por isso
Que nas palavras procurou alívio,
Peço-lhe para que volte,
Porque aqui, ou em qualquer lugar
Imperfeições irá encontrar.

Deixaste vasto o poético mundo,
Indignado, o poeta perdido em seu fundo.
Sem das palavras poder provar; sua a interminável história
Terminar...
Vagueando pelos vales da rendição,
Carregando sua incompleta missão.
E eu qui, pedindo por ressurreição.
Amigo,
Volte para a vida,
Para o teu coração.
Por que... a rendição?

27 de agosto de 2011

Dilácero

Não estou a fugir, nem a ficar.
Continuar parado diante do tempo
Ensinou-me, do modo mais eficaz,
A não fingir, a não estancar
O sangue das veias
Que em mim deixaram expostas.

O trabalho sujo e incompleto
da vida, dos anseios incertos,
Nunca me causou tanta dor
Como agora.
Dos nervos, das veias
Precipitados mundo afora.
Dos tendões, das mãos, dos braços
Sem piedade, dilacerados.

Não estou a fugir, nem a ficar.
Proporcione-me no espaço, apenas,
Um lugar onde eu possa morrer
Em paz.
Deixar-se escorrer
Até a ultima gota, e morrer
Em paz.

Uma flor logo brota
E se desfaz
Desfaz-se em espinhos.

"Deixara-se levar
Pelo mais puro veneno
E de qualquer maneira amar
Sofrendo em seu silencio,
Por escolher seu pequeno
E vasto mundo
Para esconder, e guardar,
Uma rosa que se tornou espinho."

Arranca-me, de uma vez, as vísceras!
Para que meu corpo,
Ao se tornar maré,
Não polua tuas qualidades excêntricas.

Dilacere o que restou do coração,
Você tem a chave,
Abra minhas costelas
E arranque meu pulmão.
Sopre-os como mera poeira cósmica
Ao vento, aos braços do vento.

Mera poeira cósmica,
Como sentimentos
Que vagueiam por aí desconcertados
Rumo à uma região inóspita.
Abandonados...

Não estou a fugir, nem a ficar.
Apenas a encontrar no tempo, no espaço,
Um berço onde eu possa ninar,
Esgotar-me do vermelho, sangrar, e morrer
Em paz.
Deixar-se escorrer,
Para que do ventre do sofrimento
Renasça um novo sentimento.
Como uma fênix
Emergir da própria poça de sangue (das cinzas)
E renascer!

25 de agosto de 2011

Eu te amo

Saiba que entre estas três palavras de dois abismos, existem outras mil.

24 de agosto de 2011

O vale da mente

       Quem é este a caçar poemas pela madrugada, regando flores de vastos jardins (passadas histórias)? Que ironia a minha... quem mais seria? Como quem deita para pensar e não para dormir; assim como perder as chaves do carro, da casa... mas muito pior. Pergunto-me por que estou aqui, a resposta logo é simples, "estou preso". Preso num vale deserto, seco e silencioso. Limitado por velhas cercas de madeira, enfeitado de alguns túmulos, dispersamente encantado por sedentas flores que a essa hora já se deitaram novamente no chão. Não importa o quanto você as regue, acaricie ou console, elas nunca resistem saudáveis e verdes, aliás, nesse lugar nem sequer há cor. Dê tudo o que tens e falecerá junto a elas. Por que eu ainda insisto?

       "Acredito que transformações físicas se revertem."

       Meu jardim um dia foi o mais belo, mais verde; todas as manhãs era abençoado pelo sol, às tardes consagrado pela chuva. Porém, certa noite o céu negro cobriu a Terra, e uma violenta tempestade nos castigou por vários dias. Quantos, eu não pude contar. Estive aflito, deprimido, restava-me apenas a oração e o vazio de minha pequena casa que inclinava na direção dos fortes ventos. Dormir eu já não conseguia mais, a própria preocupação tragara o meu cansaço. Sentado na cama, sem sequer a janela poder abrir, esperando a tempestade passar. Até um momento em que eu não resisti.
       Abri os olhos, surpreendido pelo súbito, logo levantei. Havia muita poeira no ar, e o silêncio contínuo me deixara inquieto. Fui à porta, e para minha surpresa, o dia em que o sol não apareceria havia chegado. Aos arredores: montanhas e penhascos, destroços e muita lama, e eu, num vale sombrio. Meu jardim se encontrava revirado, soterrado, e sem consolo algum eu me encontrava num desconcerto fatal. Pensei em largar tudo e fugir dali, mas minha fé em erguer tudo novamente não deixava. Aquelas transformações, como acredito, físicas, mantiveram o passado em meu presente. Transformações reversíveis ao olhar de Deus. Porém sou mero ser, pequeno e trabalhador como uma formiga. Por que ainda insisto?
       Incrível é a capacidade do ser humano, como um parasita, de se adaptar a qualquer lugar. Abraçar as coisas de tal forma, que passe a viver por aquilo, a ser parte de tal. Como duas peças coladas. Mas, e se alguém as resolvesse separar? Certamente alguma sairia partida. Por que então regar lembranças passadas, se Deus não somos, se a vida não é como queremos. Deixe que as velas que sustentas (cada uma que, equilibrada em teus braços estendidos, se desfaz insignificantemente deixando-lhe marcas e queimaduras da cera), deixe que as velas caiam no chão. Não vale a pena que tal ordem do destino faça-o torturar-se e deixar ser marcado no coração. "Guerras e conflitos consigo mesmo são os mais perigosos." Aceite, pois os ventos que nos tiram algo que amamos são os mesmos que nos trazem aquilo que aprendemos a amar. É um dos ciclos da vida...
       Agora, sigo Emfrente, e deixo para trás a bela "pintura" que a vida me fez. De cores vivas, as quais protejo com chave nas gavetas de minha psique. E na passagem entre dois mundos, tudo é cinza e turvo, os cheiros se misturam e nos causam náusea. Mas logo nos acostumamos; ao tocar os pés no trem, vemos que até esta "passagem" é passageira, e que tempo e música serão uma terapia.
       Jardins... de tantos já cuidei, mas para mim só existe um, aquele de que cuido agora. Outros tornaram-se vales, impróprios para cultivo e para o meu presente.
       Mesmo que as transformações físicas sejam reversíveis, como se todo passado fosse um presente alterado, não cabe a mim modificar. Apenas, em silêncio, deixar o vale às garras do vento, e partir para um novo jardim.

15 de julho de 2011

Mil escritos de nós dois [11]

"Sinto-me excitado por escrever, escrever e nunca chegar ao fim, assim como te amar, te amar, e sempre te amar. Até que palavreie-me silêncios à beira da boca, versos e mais versos virão. Até que a pedra não seja bruta o bastante, eu hei de lhe conjugar ao pé da orelha verbos inapropriados de nosso amor. Frases censuradas ao mar, cantadas numa língua que só a gente entende."

Mil escritos de nós dois [10]

Sim, eu também já pensei, e viveria, com uma só condição: teria que ser ao lado dela. Porque só ela tornaria o meu infinito, eterno. Como estrela cadente a viajar e viajar e nunca se apagar. Estrela eterna, aquela que brilha como nosso amor.

Mil escritos de nós dois [9]

Vou lhe contar: é vago, cheio de buracos, no começo aparenta ser uma bela e confortável casa, mas que aos poucos vai se despedaçando, cansando, até se encontrar numa situação precária e ameaçar desmoronar. Acontece que você mesmo toma a frente e a derruba. O infinito se mostra assim: interessante, legal, incessante, e logo, tedioso. Já pensou em viver para sempre? Infinitamente?

Mil escritos de nós dois [8]

Eterno... Por que certas coisas deixam de ser eternas? Mil, dez mil, milhares de contos; isto ainda não é eterno. O infinito, cá entre nós, ainda não é eterno. Porém, um beijo, uma sensação, um olhar, são coisas eternas. Um toque, uma decisão, uma ação, são também, mesmo que efêmeros, eternos. Mas, por que, entregues estas preciosidades ao amanhã, deixam de ser eternas? Poderiam ser infinitas e eternas... Porém impossíveis, seria como discutir entre o "querer" e o "necessário". O que escolher? Nada. Decisões como esta de tanta nobreza não cabem a mim para decidir.

5 de julho de 2011

Mil escritos de nós dois [7]

Deve estar se perguntando: "quando é que ele vai parar de enrolar e a história nos contar?". Se pergunta sobre isso, então o que eu queria eu já consegui; já que não a comecei onde deveria tê-la começado, nos perdemos então do que teria um começo, meio e fim. E o que é agora? É o que eu tipicamente chamo de eterno: sem nenhuma dessas características, durando uma fração de segundo com tamanha intensidade que se petrifica e nenhuma força o resgata. É o que chamo de "eterno".

Mil escritos de nós dois [6]

Logo quando descobri que por ela eu estava apaixonado, muitas palavras ficaram por dizer; e assim se segue até hoje: como fascos que eu ainda não pude entregar, repletos do carinho que ninguém, se não ela, poderia aproveitar. Não quero que, em função do tempo, todo o tesouro se enterre perante o mar; assim como eu, que tão pouco pude aproveitar.

Mil escritos de nós dois [5]

"Sim" - respondeu ele que a amaria para sempre, e completou: "E se um dia algo me impedir de te amar, fragmentarei em pedaços os versos de minha poesia, os transformarei em musicas e poemas e os guardarei em pequenos frascos de amor, só para ti."

Mil escritos de nós dois [4]

Monótono. Se perguntas sobre eu ser monótono e de opiniões individuais, já que tantas vezes repeti no titulo as palavras "nós dois", a resposta é: não exatamente. Pode não aparentar, e assim ninguém perceber, mas por trás de cada palavra e pensamento meu ela está presente. Talvez em nem todas, assim deixo claro que só nas palavras gostosas; de se ouvir, de se ler. Para entender melhor: uma vez perguntaram-me qual era o gosto das palavras - por consequência dum assunto qualquer - respondi que dependia de como elas eram pronunciadas, de como eram pensadas antes de se exporem ao papel, e assim seriam ouvidas, lidas, sentidas de um modo diferente. "Ela, de quem falo, é quem está presente em minha calma, em meu amor, em minha inspiração, e assim, em minha fala, meu pensamento, em minha alma, meu coração."

2 de julho de 2011

Mil escritos de nós dois [3]

Mas, para que mencionar tanto sobre o fim no inicio de uma história? Comecemos, então, pela alvorada que nos rodeia e a tudo dá inicio. Pela aurora, tão angelical e ingênua, com cada ingrediente escolhido e oferecido pelas mãos do destino para que tudo dê certo.

Mil escritos de nós dois [2]

Nunca entendemos ou percebemos "quando é para acontecer", porque se acontece, aconteceu, e nossa opinião só virá quando acabar. E de repente se reflete sobre tudo aquilo pensando em como poderia ser se não acontecesse. É por isso que nunca entendemos, pois a resposta quem dá é a gente. Mas, e se não for a resposta certa? É preciso, de qualquer maneira, confiar em si e seguir em frente.

Mil escritos de nós dois [1]

Esta é uma história que não sei a qual fim dar, mas se eu o fizer, não faço ideia de qual fim será. Se realmente dependesse de mim cada detalhe deste desfecho... cada palavra seria uma rosa, e o texto em si, um belo jardim, sem começo nem fim.

30 de junho de 2011

Só a gente entende

Poetas que sofrem, sofrem por querer,
Dão parte de sua alma para a verdade desvendar;
Seu caminho encontrar.
Pena que nem tudo é para entender.
Possa talvez se identificar, ou só se encantar.

 - Pedro Amorim.

29 de junho de 2011

A prisão.

Tu, e tua caneta, a memória em branco; o papel por estar lá. O teu cérebro a trabalhar, a processar doces sabores, antigos aromas, a tortura do passado; a tortura que é o passado. Entregas-te logo à história que lhe causa nostalgia, contada novamente por um filme falho. Deixa a musica tocar, deixa o som dominar, deixa a mente voar… As palavras acordarão e dançarão para fora da toca, deslizarão e com suaves movimentos se deitarão sobre o plano. Deixe-a cantar, deixa a mão dançar, não te acanhes, é só uma história, pois não há o que temer, é uma história de ninar. Mesmo que para a eternidade.

Burn

O teu cheiro,

O meu anseio,

Vossa chama

Que em silencio

Arde rente ao peito.

Burn=Brun

Essa é para a minha flor.

8 de junho de 2011

Então Deus disse:



“Não é bom que o homem esteja só.”
                                                 Genesis 2:18

7 de junho de 2011

Véu da Vida



De Pedro Amorim e Marcos Santos

Que destino terá a vida,
Neste trem a caminho do nada?
E que mudança será vivida,
Se esperarmos sempre pela mesma jornada?

Lá fora, bem longe desta janela
Encontram-se os nossos versos
Campos, cheios de avidez, que não despertam,
Se entregam...

Lá fora, a liberdade nos espera.
Lá se encontra, um mundo disperso
Lá fora, bem longe desta viagem,
Encontram-se os nossos pensamentos
Que nos esperam na linda paisagem
Vivendo, a cada momento
Voando, além do universo.

Além, muito além deste trilho
Ah, eu vejo, pássaros voando,
O rio, que não perde seu brilho
Andarilhos, que não perdem seu caminho

Distante, bem distante desta janela
Eu vejo a vida, ah, a vida, bela,
Verdadeira e justa, como só ela,
Eu vejo. A vida me espera.

Céu e mar, casados
Florestas e vales, sonhados
Por que ainda não despertamos-nos?
Por que ainda, iludidos... neste mar de acasos?

Lá fora
A memória
Vive sem rumo,
Ela cava seu túmulo
Pensando ser escória
Mas resiste,
E nos conta sua história.

Por que não percebem? Se só eles mesmos
Como bem são, podem parar e sair deste trem
Fugir, e entender a vida como ela é

A verdade, esmaece, enquanto sobre o trilho
Desliza o trem. Enquanto eles se esquecem
A vida, lá fora, se perde e não mais aparece...
A vida, muito além desta janela, é diferente
Tem brilho e tem luz... e não nos esquece.

30 de maio de 2011

Ainda Vivo

Uma cadeira para a reflexão,
Um lugar longe do chão,
Um abismo, se me entende,
Silencioso e tenebroso.
Um lugar onde possamos estender nossos braços
E abraçar intactas lembranças,
Intensas viagens e memórias,
Inesquecíveis histórias,
Falsas vitórias.
Valores artificiais, crenças e somatórias.

De minha memória
Trescala a tua ausência,
E em meus braços, onde há transparência,
Onde se desenhava a forma de uma bela moça,
Encontra-se o vazio, vago de essência.

A bela criança, a minha bela, linda e amorosa,
Do outro lado do espelho ainda chora.
Falta-lhe alguém.
E por mais que outras lembranças lhe digam:
- Não há mais ninguém!
Ela não se põe a ir embora.

Lágrimas de insistência
Que deslizam pelo seu rosto,
Encontram o abismo e de lá pulam
Ao encontro da morte, a valor da consciência.

Não há ninguém para resgatá-las,
Ou enxugá-las.
Cheias de consistência e vigor
Cálices abundantes de amor
Definham e murcham, como flor.

E deste lugar, muito além do chão,
Sente-se viva a minha memória, a minha vida,
Tão breve desde então...

Sinto chover em meu interior,
Petrificar-se meu exterior.
Mesmo que alague e transborde,
Ainda vivo, entorpecido de dor.

Apesar de tudo que a sina me trouxe e levou,
Lágrima não sou,
Apenas aparência do que restou...

E mesmo que a vida me desconcerte,
Eu hei de erguer esperanças com o que sobrou.

Trilhei meu caminho
Cadente, deslizei sobre a bela superfície.
Dancei, agitei-me, atuei,
E encontrei-me dentre espinhos.

O silêncio latejou.
A borboleta que um dia libertei
Encadeou-se.
O sol que um dia sonhei
Se fechou.
A Terra que tanto afagou
Com seus raios radiantes de amor;
Seus vales e florestas, seus sonhos e memórias,
Tudo escondeu-se do seu senhor.

Mas em algum lugar,
Entre seu coração e os espinhos,
Lembranças ainda vivem.
Ofegam, mas resistem...

Um lugar longe do chão,
Um abismo, se me entende.
Um lugar onde possamos estender os braços
E nada abraçar...
Deixar o ar nos atravessar, e desaparecer.
Deixar-se esquecer,
De existir.
Tornar-se lembrança e resistir.

Ainda vivo,
Entorpecido,
Ou como for...

28 de abril de 2011

Vida no mar

20 de abril de 2011

Para quê filosofia?

A filosofia é um labirinto que não nos levará a lugar algum senão a mesma resposta: "por quê?"

É infinita, pois, quando nos perguntamos algo, procuramos pela resposta já existente dentro de nós. Mas como não domamos o conhecimento, nem temos idéia do que seria tê-lo por inteiro em nossas mãos, logo, chegamos a conclusão de que perguntas serão eternas.

O que então resolverá?
E para onde vamos caminhar?
Se hoje sou filósofo, amanhã filósofo serei.
O mesmo fazendo as mesmas perguntas.

A filosofia nada "traduz", e nada resolve; trata-se de redescobrir quem és. É o caminho pelo qual encontrará respostas, e delas fará o que quiser. É o caminho que o ajudará a observar o mundo com outros olhos, e então entenderá, que nada vai mudar. Uma transformação ocorre e logo deixará de entender as respostas dadas aos porquês anteriores, descobre que tolices eram suas atitudes e seu modo de pensar. No entanto, a filosofia progride de acordo com a transformação em si mesmo, mas nunca é completa, você sempre estará se transformando, descobrindo, desmascarando, criticando... Pode-se até chegar além da compreensão dos mais sábios, pode estar certo (à caminho do que quer), porém, a ilusão sempre estará ao lado. Além do mais, quando conseguir o que cobiça, o que vai fazer? Viver às custas de realizações? Tornar-se cego? Para onde a filosofia te levará? E em quem ela o transformará? Eis sobre o nobre tabuleiro, mais perguntas...

Como podemos descobrir se o conhecimento é mesmo infinito?
E se for, até que ponto vamos indagá-lo? Se a resposta for "eternamente", às custas de realizações e transformações viveremos, tapando buracos vazios sem nenhum sentido. Afinal, já não fazemos isso sem mesmo perceber? Será esse o sentido da vida? A filosofia lhe responderá, e boa sorte, porém a resposta certa nunca encontrará, nem dentre as milhares alguma resolverá...

19 de abril de 2011

E os dias passam

E os dias passam
Tão rápido quanto eu possa imaginar
Como chama pronta para se apagar
Como ventania
Que num dia está aqui
E noutro está lá

Repouso então meu corpo aqui
E deixo a correnteza me levar
E tanto faz
Que por dez, que por mil,
Que por dez mil lugares possa me carregar
Pois só o que quero agora
É a vida aproveitar

4 de abril de 2011

Sonho

Ah, não me sinto bem
Minha cabeça dói
Algo em minh'alma aos poucos corrói

O que tanto eu fiz
Para acabar assim?
De alguém me desfiz?
De uma vez pus um fim?

Então eu devo ter bebido
Um pouco demais por sinal
Estou sentado num trilho
Ferido e triste, afinal...

Quem perdi?

O sol... o sol está se pondo
Ouço vir um trem
E eu aqui amando
Esperando por "alguém"

Rema, rema, sol...
Vai chegar no horizonte
Vai passar por ele também
E acabar como eu
Esperando pelo trem

A lua... a lua não vai encontrar
Ela está do outro lado agora
Fazendo outro sonhar
E você chorar

Não te entristeças,
Não vá embora.
Mas se persiste
Logo a segunda opção
Existe...

Amigo, olhe para fora
Não para dentro
Olhe agora!
Esqueça de tudo
De mim também
Faça-te um escudo
E destrua o trem

Olhe para fora...
E veja então
Existem muitas delas
Dessas estrelas, tão belas!
São uma gracinha, não?

Por que ainda solitário?
Girando em vão?
Se tu és tão grande, aí no céu.
E eu aqui, lamentando como grão...

É, eu te entendo
É difícil se recuperar
E tão fácil de se perder tempo...

Pensando, e girando...

Mas nós temos algo em comum
Somos dois, vivendo como um
Um só, e já basta
Pois não seremos mais,
Que mera folha amassada

Não importa quantas estrelas existem
E o quão são belas
E não importa se as sereias me insistem
Não cederei a elas

Nem toda estrela é Lua
Nem as sereias têm o perfume dela
Nenhuma é tão bela nua
De alma, corpo e espírito, como "ela"

Ah, tão bom seria se eu tivesse um barco a vela,
Rumo ao horizonte,
Às fronteiras da Terra!

Sem problemas cá oeste
Nem boatos lá no leste
Só o vento forte que me leva
E a multidão que me esquece

Ah, ouço vir o trem
Bravo, ele vem
Fumaçando
Estressado com alguém...

De novo...

Essa gente que não sossega
Perambulante,
Só se cega
Passa bufante, como elefante
Atropela-te
Não obstante se for pedra

Dói-me ainda a cabeça,
Enquanto gigante colosso destrói minha terra.
Então não se esqueça
Que minha vida tão cedo não se encerra
Se não houver guerra
Pois quero-te de volta.

Se não, como o sol me esconderei
Até o horizonte remarei...
Dele, e até do "fim" passarei,
Perguntando-me "onde é que eu errei?"...

Cai a noite; se desfaz a Terra

Abra os olhos
A penumbra te enterra.

Abra os olhos
E aproveite a guerra...

Fumaçante ele vem
Logo acordo, e descubro:
"Estava prestes a morrer por 'alguém'"...

1 de abril de 2011

Excesso

Algo, muito incerto parece estar. Será que eu não vi? Não percebi? Como eu pude ser tão cego? O excesso não consome, não corrói, mas lava por dentro e te suga o tempo. Quando eu e o excesso, nos tornamos um só, nada que esteja do lado de dentro poderá mudá-lo, e tudo o que, do lado de fora poderia me influenciar, estaria longe de mais para me mudar. O excesso; coagulação do pensamento, imobiliza e nos impede de observar aos lados. Tudo que é excesso, talvez possa ser considerado parasita, pois, quando afetado por ele, talvez muito tempo depois poderá se dar conta e se perguntar: "Será que não vi? Não percebi? Como eu pude ser tão cego?". O princípio há muito tempo permaneceu incerto, é triste só percebê-lo ao fim... Por isso, entenda, e comece a se livrar de teus excessos... Quem sabe, se nunca chegar a perceber... e ser tão cego, para sempre...

27 de março de 2011

Da literatura ao poeta

A literatura é arte, assim e também vista de muitas outras formas, ela é o pensamento, é o domínio das palavras. É o modo simples - às vezes complexo para alguns - para se entender a realidade com os próprios olhos, para talvez mudá-la, ou simplesmente encantá-la. A literatura é a palavra, a construção e também a poesia. Seja ela oculta ou explícita, ela sempre estará lá, em todos os lugares, basta-nos enxergá-la, conhecê-la, entender este elemento metamorfoseado em diversas formas. Sempre presente, como ar e som, como a inspiração, rimando ou não, mas sempre com o sentido, causa e efeito, junto ao coração. Cria a emoção, a ilusão e a reflexão para a mente poética. E cabe a esta, mente poética, recriar a realidade, procurar e esculpir precisamente as palavras sobre os versos em branco do poema. Tirar do sangue e da alma o que sente para causar impacto àqueles que nada sentem. Mente brilhante, fábrica do universo, que com poucas palavras muito pode fazer (e dizer). E o poeta, que trabalha e sua como qualquer outro homem, nada pede em troca. Em vez disso, mergulha nos rios da literatura, viaja pelos verdes campos da leitura, e repousa onde há sabedoria. Nada, nada cobiça em troca... Porque, o poeta nunca termina a sua missão; não antes de falecer. Ele sempre estará a continuar escrever.

26 de março de 2011

O poeta e seu Iceberg

O poeta, em seu iceberg
Navega através dos mares
Avista horizontes e lugares
Onde, sem hesitar, segue,
E em seus novos ares
Deixa que a inspiração o leve.

O poeta navega ao nada,
Mas segue os caminhos traçados
Num mapa
Escrito em sua alma
E não resiste,
Apenas segue a maravilhosa jornada.

De alma completa,
Acorda o ser nele adormecido:
A alma poeta
Que se faz presente,
E o poeta em seu iceberg
Segue pelas correntezas
Deste mar de poesia.

Fora de si,
Busca nas palavras abrigo
E nas cavernas da imaginação
Desenha com a mão
Aquilo que lhe vive escondido.

O poeta não abandona seu iceberg
Pois ele sabe
Que nenhum iceberg é vivo
Sem poeta
E que poeta sem alma
Não é poeta.

Por Marcos santos de Porteiras Poéticas.

25 de março de 2011

Esquecido

Não há engenho nem obra
Que o leve para além da morte
Pois tu e tua glória, falecem com a memória

Desconhecido

O poeta com sua lanterna
Ilumina o mundo
E sua caverna

Tempo que se perde

Nada pra fazer
Uma noite sem dormir
Um dia sem te ver...

De Juliana Freitas

Escrever

Preso entre dois mundos,
Entre duas histórias
Sem fim e sem rumo,
Vasculho as memórias,
Prosas da escória,
Enquanto goteja lentamente,
Palavra por palavra,
Num acontecimento moribundo.

Exprimo o conhecimento
Enquanto as nuvens
São levadas pelo tempo,
E os ponteiros pelo vento.

Já é tarde
E é difícil entender.
Mesmo quando não há nada
Para escrever,
Eu insisto em o fazer.

18 de março de 2011

Todos os dias o mesmo sonho




Todos os dias o mesmo sonho


Acorda e levanta,
Desliga o despertador,
Põe o terno, a gravata, e se adianta.
Caminha pelo corredor.

Desce a escada,
Toma teu café,
Dá um beijo na mulher.
Sai pela sala; avista a estrada.

Está frio, e no chão há neve.
Tudo está vazio, e tão leve...
Tudo então se esquece,
Mas aqui, nunca envelhece...

Pega o carro,
Corre ao trabalho;
Pega o atalho,
Estaciona em qualquer lugar, pois tudo está vago.

Vai ao teu cubículo,
Ajeita a papelada.
Incessantemente, trabalha
Para mais um dia em que tudo corre ao nada.

Acorda, e levanta.
Desliga o despertador.
Põe o terno, a gravata, e se adianta,
Vaga pelo corredor.

Desce a escada,
Anestesia-se, toma teu café.
Beija a mulher e,
Sai pela porta; observa a estrada.

Mais um dia, que corre em vão,
Estranhamente do teu jeito.
O sangue que agora escorre da tua mão, é da solidão,
Da própria alma rente ao peito.

Pega o carro
E corre, hesitante em fugir...
Mas segue o atalho, e vai para o trabalho.
Estaciona, e por um instante, observa:
As mesmas coisas em seu mesmo lugar.

Árvores, nunca tocadas pelos pássaros,
Ainda carregam em suas folhas neve.
Árvores, nunca percebidas pelo sol,
Ainda são castigadas, como vaso de flor, vazio e leve.

Vai ao teu cubículo,
Observa a papelada.
(Vê: a tua existência atropelada.)
E lá se vai, mais um conto de fada...

Acorda e levanta,
Desliga o despertador.
Põe qualquer roupa e se manda,
Foge pelo corredor.

Desce a escada,
Esquece o café,
Não beija a mulher.
Segue em direção à sala,
Abre a porta e sai
Em direção à estrada.

Pega o carro,
Desvia o atalho,
Foge do trabalho,
Estaciona em qualquer lugar, alto e vago.

Procura um prédio,
Um refúgio para quando em tédio.
Um remédio, um remédio....
O tropeço num anestésico.

E assim cai, num voo breve,
Em instantes. Leve como neve...

Vaso sem flor
Corpo sem calor
Mundo incolor
Uma vida sem amor.

------------------------

Acorda... Levanta...
Não toca o despertador.
Assustado, põe qualquer roupa e, desesperado corre.
Atravessa o corredor.

Desce a escada,
E não há café,
Não há mulher.
Sai pela sala, encontra a estrada.

Observa aos lados:
Não há carro,
Não há atalho,
Não há trabalho algum.

Então corre, corre atrás de tua sombra, a que deixaste no espaço
Sozinha e gélida.
Deixaste-a no tempo, a um abraço.
Sozinha, num mundo vago.

Corre, atordoado,
Até o pico daquele prédio.
(Sente-se pesado, sente-se velho)
E lá está, em tua forma o tédio.
Vê-se, o próprio, dar as costas (preferir um corte)
E seguir para o caminho
Onde abraçaria a morte.

A última batida,
Não revela, não espera,
Não deixa sequela.
Não trás, e não leva.
Simplesmente enterra
Para sempre, sobre suas trevas...

"O lugar agora chora...
O mundo mudou.
Quando o sol aparece
E a neve derrete,
O mundo chora..."



Baseado em "Every Day The Same Dream" de Molleindustria.

16 de março de 2011

Areias do deserto

O momento é que nos traz
As sensações e idéias de quem o faz.
Traz na cabeça, e também nas mãos,
Somente as palavras que te ocorrem em vão.
Não faz menção; não tem intenção,
Apenas, o momento,
Traz-nos ao meio do deserto,
Àquilo que não está longe, nem perto.
Mas na medida certa
Para nos fazer acreditar
Numa ilusão, que cedo ou tarde será
Apagada e enterrada
Pelas areias do deserto.

O colecinador de sonhos

Sim, ainda pequeno os perdi

Todos os meus...

Cada um, um por um, pois vivi deles

E consumi os seus...

- O Colecionador de sonhos

15 de março de 2011

Liberta o medo

Liberte-se de si
Fuja do próprio; escolha a tua casa
Ainda que chova lá fora
Enfrente, saia de tua casca

Verdade que não se vê

Olha, por trás dos olhos
Pois não se sabe qual é a verdade
Uma realidade por trás dos sonhos,
Ou a real face da insanidade?

De "cera"

O sorriso que nunca muda
Não reflete; não escuta,
Opaco por trás de um véu
Faz sua peça, nunca fiel.

Há algo errado

Dias que não mudam
Tão calmos, me assustam
E o tempo que ainda é o mesmo
Nos cega, tão cedo...

De volta ao iceberg.


Cá estou, de volta ao iceberg... e, sem mais nem menos, com muito a dizer.

"Não importa a direção dos ventos
Meus ouvidos sempre estarão atentos
Sopra-me o que quiser
E eu escreverei, o que disser"

19 de fevereiro de 2011

Sobre selar.

       Pensamentos, devaneios, idéias; o poeta que antes muito teve pelo que escrever, hoje não lhe sobra nada. Não se sabe mais por onde anda sua inspiração, ou por onde correm seus sentimentos. Quisera esquecer de tudo e recomeçar, mas um poeta não pode recomeçar. Sabe ele que nunca poderá dar fim à sua missão, à missão de escrever, de pensar. Não poderá terminar, como bem disse em "Nada é completo", pois tudo é seleto. Um rastro deixou pela história, e na memória, marcou as suas histórias. Ouve um relâmpago, um trovão, chove em sua terra, chora poeta, perdido e afetado. Sinto que ele tem algo a dizer, aliás, sempre terá algo a vos dizer, mas, agora... com quais palavras? Sei apenas que por onde correrem seus sentimentos, ele pede, com certeza, para que os guarde, para quando voltar, os reconhecer como se fosse pela primeira vez.
       Sim, "para quando ele voltar", e receber do tempo, antigos presentes. Selar, talvez, selar as idéias, selar o campo, selar, às vezes, as muitas palavras que lhe vêem à cabeça para confundir. Selar para uma boa reforma, fugir deste lugar e deixar a vida seguir, fluir. Pois sabe ele que "nós só começamos a viver quando estamos mundo a fora", longe de casa. Viver mais, é o que quer. Dar um tempo para que as coisas voltem ao seu devido lugar...

       Selar, por um tempo necessário. Simplesmente esperar pelo momento certo, porque não se define o que é necessário, apenas, se sente.
O poeta sela agora este blogue.

       Num futuro próximo, nos veremos então, em breve... em breve...

15 de fevereiro de 2011

Perde o sentido

O poeta procura a palavra certa, procura o lugar certo, o tempo certo...

Repete a palavra, repete a dúvida, encontra e perde.

Repete tanto a mesma palavra, até que ela não faz mais sentido,

Olha-se no espelho, para dentro dos próprios olhos, enxerga a alma.

Percebe-se tanto, que agora não se entende.

Querer entender só lhe trará mais perguntas.

O que ele vê, o que sente, o que ele é. Perde o sentido.

Indaga-se tanto

Que perde o sentido.

Não queira entender,

A vida lhe mostrará quem és.

Porém, um dia chegarás ao ponto onde as coisas não mais se encaixam,

Ou não valham o quanto pensas.

Mesmo que tanto procure pela resposta

Um dia, se encontrá-la, irá questioná-la.

12 de fevereiro de 2011

Desistir

Desde cedo a poesia já não tinha mais vida
Basta uma ferida
E a morte já declarara sua vinda.

9 de fevereiro de 2011

Interminado, abortado...

Ó tempo, ó tempo, por que não leva meus desejos? Se é em ti que se baseia minha vida, e só tu podes me trazer de volta a ânsia pelo que escrever; a vontade incessante de perseguir rastros da memória; encontrar em passados dias apagados momentos para concluir poesias... Ó tempo, por que não toma a tua amada e foge? Leve tudo, deixe-me recomeçar por mim mesmo, deixe-me escolher entre o ter e o não ter; o exato momento das coisas. Por que ter então a ti, se não posso terminar minhas poesias, pequenas obras? E meus textos... jogados e interminados para sempre. Tanto esperei, e não houvera conclusão. E esperei, até que não chegara a inspiração. Leva então os meus desejos, para que a vontade de concretizá-los não seja mais necessária; para que eu não mais reflita, quando cambaleante entre pensamentos, aquela mesma mesa sobre minhas poesias. Sim, uma mesa, onde só o que nela me resta são migalhas de meu passado. Tempo que não chega, leva então, a tua amada, para que não mais eu possa abortá-la.

26 de janeiro de 2011

Um amor, uma memoria

Um amor, uma memória


Disseram-me que era só faze,
Que logo passaria e eu não mais me lembraria.
Como se meus olhos hoje vissem
O que amanhã se apagaria,
É como agora entendo, porque não houve mais alegria.
Talvez fosse uma frágil borboleta,
Um pássaro sem asas, um pardal sem casa...
Algo que eu não pudesse mudar.
Talvez um navio, que do mar me resgataria,
Talvez uma impressão, ou até mesmo uma obsessão.
Para que entender?
A vida me oferece todo o tempo do mundo para isso.
Não me preocupo, pois não vou esquecer
Do primeiro dia, onde te conheci,
Nem do último, onde em meu vasto campo, teu amor
Me deixou uma caveira, sim, uma linda caveira,
Que para sempre eu guardarei como uma bela rosa.
Uma rosa, em minha memória,
Ou então, num livro sem história?
Só o que vejo agora
São lembranças que não mais existirão,
Lembranças sem sentimentos, de nenhuma opinião.
É tudo como se hoje eu visse
O que o tempo jamais apagou.
Como se hoje eu lesse
A minha busca, incessante, pela alegria
Num conto onde se revela
A cena intacta de minha vida
Onde não houvera história,
                            e só uma rosa...

21 de janeiro de 2011

R.I.P.

R.I.P.

I am not trying to find our way
I'm just going to home
Through the rain, through the rain

I just can't fight anymore
And i was so strong before
Now i can't hold any weapon, any weapon,

Can't you see? It affected my brain
This is not too right
Turn around the cards
And play again, play again

Can't you see into the sky?
There's no highway
There's no final day
I can't fly, i can't fly

Can't you see?
Can't you feel?
There's no way
And no hiding place, no hiding place...

In this war
It's all afar
Fallen star
Is what we are

In this war
There's no escape
To find out light
In this constant fight

Please
Let me go away
For my resting place
Through the storm, through the storm
To fix my soul
And rest in peace...

Then, i see
No mercy, no mercy...

Tadashi Abe (7.º dan de Aikido)/ filosofia

“Praticar uma arte marcial como simples treino esportivo equivale a cultivar flores num jardim de cimento; não produz flor nem eficácia. Os esportes estão codificados por regulamentos estabelecidos para suprimir o máximo de perigo; é o objectivo do esporte. As artes marciais devem fomentar a audácia, o sangue-frio, a resistência, o golpe de vista, diante dum ataque armado... dum combate em que se pode perder a vida... não um título; é o objectivo das artes marciais”.

“Uma queda! Um golpe! Não terminam o combate, se a queda for amortecida, se o golpe foi superficial... porquê considerar-se vencedor por destes factores? O esporte é generoso em fazer crer no milagre. Se o combate for real... se a mão segura uma faca... essa glória será talvez póstuma. Entre a teoria e a prática, entre o esporte e a realidade, pode haver a diferença da vida e da morte”.

19 de janeiro de 2011

Dia seco

Dia seco

Um raio, uma lança
Um flerte, minha esperança
Antes mesmo que eu saiba
Que eu veja tua alegria pelo amanhecer
Minha poesia foge e não mais se vê
Quero que saiba
Pois hoje
Minha inspiração morre ao alvorecer

18 de janeiro de 2011

Tristeza de um rei

Tristeza de um rei

Por que eu? Por que a mim?
Se com um simples toque destruí tudo.
Por quê? Por que assim?
Se em vão o tempo correrá
E nada sobrará para contar.
Sua voz, aquela que me chama
Para dentro do fogo azul, me atrai a quem nunca se mostra.
O fogo que dança, dança, e nunca nos alcança
Tão sóbrio e acolhedor, nos separa...
Às vezes, pobre e indeciso,
Sem saber onde quero chegar,
Não ouço, não entendo. Então...
Para que vencer? E por que temer?
Se o mesmo fogo que queima
É o mesmo que nos consome.

"Anseia rei, nunca satisfeito
Nunca perde, nunca cede, nunca vê.
Não vive para crer.
Dentro de sua própria casca
Segue em chamas, e ali derrama
Toda a insignificância de seu ser."

Não importa o quanto mandei matar,
Ou quantas chances atirei ao mar,
Lágrimas que arranquei,
Ou quantas palavras ignorei.
Cartas que não li, rosas que sufoquei,
Espinhos que plantei...
Só o que fiz foi te amar.
Te amar, cegamente, para sempre.
Para sempre...