15 de outubro de 2011

Abdul e Psique [6]

       Três dias se passaram. Durante esses, vivi e aprendi com Psique. Ao seu lado, minhas ideias se tornaram mais claras; o valor da sua companhia proporcionava-me segurança. Certas vezes, tinha a impressão de que (em meu subconsciente), já entendia do que ele, por gestos, fazia-me refletir. Porém, se realmente eu soubesse, sua presença ainda seria fundamental para que eu resgatasse os princípios que esqueci.
       Era um simples gato, de aparência frágil, mas com uma alma brilhante dentro de si. Em certos aspectos, poderia até dizer que ele era parecido comigo: em seu olhar que se perdia nas imperfeições do horizonte; pelos traços estreitos e finos, de tristeza, que transcorriam em sua face.
      Como disse, éramos dois, como a um só. "Mapeando" o deserto e procurando respostas para nossas mazelas. Sabíamos que cada um ali conhecia bem as próprias dores, e estávamos cientes também que não compartilharíamos elas (não com palavras silábicas), pois, em nossos longos silêncios, confessávamos um ao outro essas palavras que nenhuma outra linguagem poderia expressar. Ele me trazia os velhos conceitos, e eu, era a ponte que o ajudava atravessar as montanhas e nossos obstáculos.
     E assim se passaram dois dias e meio, quando, no fim de tarde de segunda-feira, enquanto o sol se punha a adormecer, a chuva severa novamente se iniciou. Logo quando nos víamos nas mais altas montanhas do deserto, deixando para trás apenas um abismo inexplorado.

- Arquivos da Psique

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