11 de outubro de 2011

Albedo [5]

       Viraste meu mundo do avesso, pequeno inferno. Ultimamente, já não entendo mais qual parte do mundo é real, ou imaginação. Mas vi um gato vagar por aqui. Não sei quanto tempo se passou, nem se estou velho demais, porém as cores eu ainda enxergo bem, pois, ele era laranja com algumas manchas de cor marrom. E magérrimo. Poderia ser ideia do pensamento para que eu não me sinta absolutamente sozinho, como poderia ser alguma resposta de Deus. Não sei onde, no poço onde estou, encontrei fé, porque, Ele ouviu minhas preces.
       Certo dia, estava a passear por entre as montanhas carmesim, quando me deparei com passos delicadamente sutis. Não deve ter notado minha presença, ou apenas ignorou, mas dava voltas pelos caminhos já percorridos como quem espera para ser encontrado. Caminhava, pelos becos, sempre rente às montanhas, como se fossem seu único refúgio. E eu a observar, como aqueles movimentos frágeis de um gato faminto me fascinavam. Chovia, mas miseramente em relação à tempestade de antes, estava cessando. Era a metáfora perfeita para meus problemas que começavam a se resolver. Estranho é que, mesmo chovendo, ele não procurava abrigo para se esconder. Senti que precisava ser encontrado.
       Eu, então, o acolhi. Era meu único amigo na imensidão do deserto. Não nego que eu estava faminto, mas resisti, e compartilhei o pouco que tinha. Éramos dois, como a um só.

Abdul, e Psique, assim como o chamei.

- Arquivos da Psique

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