27 de fevereiro de 2013

O trágico fim da linha.

Como uma criança a percorrer o arco-íris para encontrar um pote de ouro em seu fim, percorri a estrada das expectativas em vida. Eu corria com a esperança e a fadiga de cada fim de tarde ao meu lado. Um tempo depois a fadiga das manhãs apareceu para me acompanhar. Esta já me atrapalhava bastante. Ela insistia que eu parasse de correr. Ela me entediava. Ela parecia tão desnecessária e tão cativante ao mesmo tempo, que sucumbi uma ou duas vezes à sua vontade. Porém essas tentativas de desistência se foram quando o incentivo chegou para correr junto a mim. Ele era ágil, veloz, e me empolgava. Ele usava as palavras certas que com certeza impulsionariam meus pés a cada passo. Ele me acompanhou por incontáveis dias. Eu acreditei nele assim como acreditava que eu estava vivo. Até que certo dia ele teve que partir para outra direção, e então eu passei meus dias seguindo sua filosofia como um bom discípulo. A caminhada era longa e arriscada. Era quase impossível prever quem ou o que iria aparecer para me acompanhar. A caminhada estava começando a ficar interessante e agradável quando certa tarde — que já não havia começado bem por um pressentimento suspeito — eu percebi que o fim da estrada permanecia mais longe que eu imaginava. Mas não desanimei. Comecei desde então a correr automaticamente. Sem sentir a direção do vento e sem interagir com os variáveis momentos que me abordavam na estrada. Até que eu tropecei. Cambaleei e feri meus joelhos. Quebrei, não entendo como, os cotovelos. Ralei os pulsos e acabei deixando cair a sanidade. Procurei-a, mas não a encontrei. Ao olhar para a estrada, após me recuperar, percebi que estava diferente. Tinha curvas novas; tinha gente mais estranha que o normal correndo por ali. Pessoas com objetivos estranhos, correndo com uma convicção doentia; esta que parecia a cada segundo desvanecer e tornar-se transparente bem ao lado deles. Até que se viam inteiramente sozinhos e começavam a correr com desespero e agonia para lugar nenhum. Alguns simplesmente abortavam a corrida e sentavam no asfalto. Entravam em transe e, numa forma de vai e vem com a coluna permaneciam constantemente por um longo tempo. Até quando eu não sei. Nunca parei para observar o que iria acontecer com eles, porém, nunca vi-los fazerem outra coisa após isso. Eu tinha medo que meu trajeto terminasse assim: trágico. A partir daí a caminhada deixou de ser monótona. Eventos e imagens me circundavam desde então. Mas todos eles carregavam desgraça e tragédia. Eu estaria perdido? Estaria eu caminhando na estrada errada? Não encontrei resposta para essa pergunta. Achei que seria mais produtivo continuar a correr a ter que parar para rever o trajeto. Foi o maior erro que cometi em vida. Eu poderia ter achado uma saída dali: daquele espaço envolto por tragédias. Mas continuei a correr — em frente, sempre. Muito tempo se passou. Eu estava acostumado com as desgraças e a dor em meus braços e pés. Quanto mais longe eu ia, mais meu corpo doía. Contudo, eu parecia não ligar para isso. Eu queria apenas chegar... Sim, chegar. Seja lá onde fosse. No fim da estrada ou em algum lugar. Eu escolhi apenas o caminho, a conclusão eu decidiria no meio da estrada, no decorrer das milhas que se passavam. Eu acreditava no bom fim. No agradável e confortante fim. Eu acreditava que se não fizesse coisas ruins aos outros no decorrer da estrada, eu teria um bom final. Eu procurava talvez um pote de ouro no fim do arco-íris. Eu seguia as cores até que elas me cansassem e eu me perdesse na diferença entre elas — até que todas permanecessem iguais; então eu seguia uma estrada sólida e cinza; e logo eu não mais via os dias passarem. Eu apenas sentia meus pés doerem; o cansaço aumentar; eu percebia o cenário da frente ficar para trás. Eu caminhava tranquilamente até que então o asfalto acabou. Havia uma placa sinalizando o fim da linha. Ao lado dela, no chão, jazia o crânio de um animal grande. Além do asfalto estava a vastidão dum deserto que escurecia ao anoitecer, e logo o cenário estava se apagando. Eu já não via mais o sol; eu já não via as montanhas, e logo eu me via apenas na presença da placa, do cranio e do asfalto em seu fim. Não havia mais onde chegar. Não havia nada envolta. O fim da linha era amargo, seco; trágico... Seria isto o início duma canção para o adeus? Eu não sei. Mas assim eu decidi.

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