27 de agosto de 2011

Dilácero

Não estou a fugir, nem a ficar.
Continuar parado diante do tempo
Ensinou-me, do modo mais eficaz,
A não fingir, a não estancar
O sangue das veias
Que em mim deixaram expostas.

O trabalho sujo e incompleto
da vida, dos anseios incertos,
Nunca me causou tanta dor
Como agora.
Dos nervos, das veias
Precipitados mundo afora.
Dos tendões, das mãos, dos braços
Sem piedade, dilacerados.

Não estou a fugir, nem a ficar.
Proporcione-me no espaço, apenas,
Um lugar onde eu possa morrer
Em paz.
Deixar-se escorrer
Até a ultima gota, e morrer
Em paz.

Uma flor logo brota
E se desfaz
Desfaz-se em espinhos.

"Deixara-se levar
Pelo mais puro veneno
E de qualquer maneira amar
Sofrendo em seu silencio,
Por escolher seu pequeno
E vasto mundo
Para esconder, e guardar,
Uma rosa que se tornou espinho."

Arranca-me, de uma vez, as vísceras!
Para que meu corpo,
Ao se tornar maré,
Não polua tuas qualidades excêntricas.

Dilacere o que restou do coração,
Você tem a chave,
Abra minhas costelas
E arranque meu pulmão.
Sopre-os como mera poeira cósmica
Ao vento, aos braços do vento.

Mera poeira cósmica,
Como sentimentos
Que vagueiam por aí desconcertados
Rumo à uma região inóspita.
Abandonados...

Não estou a fugir, nem a ficar.
Apenas a encontrar no tempo, no espaço,
Um berço onde eu possa ninar,
Esgotar-me do vermelho, sangrar, e morrer
Em paz.
Deixar-se escorrer,
Para que do ventre do sofrimento
Renasça um novo sentimento.
Como uma fênix
Emergir da própria poça de sangue (das cinzas)
E renascer!

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