9 de setembro de 2011

O Cárcere: poesia sem luz

Os cantos sobre o quarto, a fraca luz amarela e trêmula; a trêmula, a fraca melodia sobre os teus dedos, tudo isso a desenhar, esboçar com largas curvas e voltas, o ambiente de teus recônditos. Os cantos sobre o quarto; o quarto de escombros. Teus sofridos sentimentos que latejam rente ao peito. As adagas da memória enferrujadas de passado. As foscas palavras encarceradas no anteontem. O cego ambiente de teus recônditos. Tudo isso a lhe pesar sobre o peito e esmagar tuas costelas, consumindo o folego e o teu descanso, lhe torturando sem sequelas. E os cantos sobre o quarto a observarem, silenciosamente, na cama, o contorcer de um corpo, a dor de um câncer a se formar. O acúmulo de palavras não ditas, as palavras malditas, enterradas nas paredes do estômago. Um paradoxo, uma metamorfose, as concretas reminiscências a se revelarem em pequenos frascos de história. Lágrimas marmóreas de inexistência, carentes de um afago amigo. O grito sem função, o som em oculto. Chove em silêncio dentro de ti, e nesta surda tempestade uma chama revoltosa se alimenta de toda a matéria existente, e devora com rebeldia todo o sentimento presente. Abaixo dos olhares dos cantos do quarto, um borbulhar escarlate, um corpo pulsante de amor, ódio, e outras substâncias.

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