3 de setembro de 2011

Última poesia para os olhos.

       Que poesia a ti expressariam meus lábios se toda a arquitetura de meus versos provém da inspiração que teus olhos me trazem? Como poderia eu compreender o teu sentimento, se teus olhos para sempre se fechassem? Seria como me despejar na vastidão do espaço sem que eu tenha rastro algum do caminho de volta para casa. Porém, seria isto um modo de dizer que não me quer ouvir, e sim, sentir? Como um convite para que eu me aproxime, e seja banhado pela maré dos teus sentimentos? Ah! Tão bom é sentir-te segura, a esperar, serena sobre esta jangada, neste mar de sensações. Percebes, só de ouvir, que sozinhos estamos aqui. Presenciando a vastidão e a calmaria dos sonhos que foram esquecidos entre o céu e o mar; resgatando a falha existência daqueles que ainda não se foram. E tu, só a sentir, sem com os olhos iluminar a mim.
       Um ponto, dois pontos de vaga essência... E o teu silêncio me atormenta. Não tornará tão cedo abrir teus olhos; pois num ar puro de dormência, espera-me, com paciência. Deixe-me então, aproximar-me. Compreender-te dentre os teus abismos, se é o que queres. Deixe que, neste milésimo entre segundos, eu lhe transporte para o infinito, num só toque, suspiro, em que se traduzem todas aquelas palavras de nossos sentidos. Deixe-me, pelas entrelinhas, costurar com palavras os teus vazios, preencher-te, com um beijo, a alma e o sorriso. Recitar-lhe numa linguagem indecifrável, a mais bela poesia: um beijo; aquele que pode ler nas entrelinhas. E, mesmo que não apareçam a mim, teus olhos muito me disseram palavras encantadoras, as mesmas que agora ponho-me a transmitir-lhe duma forma silenciosa.
       "Um ato de beijar é como ler nas entrelinhas; uma pronúncia silenciosa do que os olhos não disseram." Versos embriagados, talvez até sem sentido, desenhados na pétala de uma flor, que tímida, desabrocha agora lentamente. Abra teus olhos, pois, linda flor.

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